Logo depois que o Jango assumiu, o país entrou em polvorosa. Tipo hoje. Mas à sério. Um grupo de oligarcas, executivos de multinacionais e ricos sem razão específica que costumava se encontrar para engraxar os sapatos juntos (não me perguntem o porquê, eram os anos 60) também se deixou contaminar pelo papo. Além de falar de suas famílias e suas amantes; de seus negócios e de suas negociatas; de vinhos e Whisky e de seus porres e suas ressacas; introduziram em seus papos a política.
Assim, todo dia de manhã, enquanto um grupo de quase escravos engraxava seus sapatos, eles ficavam lá conjecturando o futuro político da nação:
– Então vai ter golpe?
– Não, tem não.
– Então vamos virar uma nação comunista?
– Não, vira não.
– Então uma intervenção americana?
– Não, intervem não.
– Então, qual será o nosso futuro?
– Futuro? Futuro não.
No meio desse papo rico e intelectual, um dos oligarcas incorporou um Sócrates, o filósofo, não o jogador, e se virou para um dos engraxates para consultar o povo sobre a sua opinião:
– E você, rapaz? O que pensa disso? Iremos abraçar o comunismo no Brasil? Iremos nos tornar verdadeiramente comunistas?
O rapaz pensou, pensou, coçou o queixo, pensou um pouco mais e do alto da sua sabedoria respondeu:
– Se vamos virar comunistas ou não, sinceramente, num sei, mas se o comunismo vier, pode ficar tranquilo, nóis estraga.
Entra a claque, por favor.
Sérgio Porto escreveu praticamente a mesma coisa, mas com um gari no lugar do engraxate e “a gente esculhamba ele” como punchline. Idéia boa é assim, todo mundo tem a mesma.