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Conservadorismo à Brasileira

De 2014 a 2016 eu morei na Almirante Gonçalves, na época, a única rua sem saída de Copacabana, e, até hoje, lar do Bip-Bip. Pra quem não conhece, o Bip Bip é um botequim minúsculo onde rolam rodas de choro e samba. Foi administrado durante muitos anos pelo impagável e saudoso Alfredinho, que distribuía o seu mau humor ao mesmo tempo que acolhia os fregueses e a vizinhança com seu enorme coração. Inaugurado no dia…

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Ficção

Acima das nuvens

Quando Luna o expulsou do quarto, no meio da noite, seu primeiro pensamento foi ir embora, ir embora de Copacabana. Ele subiu ao terraço do hotel e acionou o aplicativo para chamar um dos táxi voadores que cortavam os céus da cidade. Apesar da chuva torrencial, para a sua sorte, os táxi voadores ainda estavam em atividade. E, mesmo sendo tarde da noite, os preços indicados pelo aplicativo estavam, senão baratos, justos. Na verdade, qualquer…

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Ficção

Dr. Molon e Mr. Moro

No caminho para o trabalho, Marco esbarrou com um bando de gente balançando bandeiras de apoio à candidatura de André Ceciliano ao senado. Bem ciente das contradições do PT carioca, ele, só de zoação, resolveu gritar “Molon!” pra dar umas boas risadas. Para seu espanto, quando abriu a boca, do fundo da sua garganta saiu um longo e sonoro: – Mooooro! As pessoas à sua volta se viraram procurando quem poderia ter dado esse grito…

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Destaque Ensaios

A vassoura atrás da porta

Receber é uma arte. Expulsar também. E nisso meu pai era um mestre; na segunda arte, quero dizer. Quando as visitas passavam do tempo que ele considerava regulamentar, ele se recolhia no quarto sem falar com ninguém. Algumas vezes, no caminho para a cama, depois de levar copos e pratos ruidosamente para a pia, ele varria a sala, esbarrando de propósito nos pés dos convidados, e depositava a vassoura atrás da porta, como mandava a…

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Ficção Poesia

Amanhecer

Ontem, a gente via o nascer do sol do outro lado, do lado daqueles que ainda não tinham dormido. Voltando de boates e bares, encharcados de álcool e conversas essenciais, seguíamos de carona em carros de desconhecidos em direção a casas que não fossem as nossas. Abríamos janelas e geladeiras na busca vital por ar e pela última dose; ligávamos televisores e cd players como trilha sonora para nossas últimas investidas amorosas; nos esparramávamos em…

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Destaque Poesia

AI DE TI, Copacabana – versão bicentenário da Independência

Desculpa, Rubem Braga. 1. AI DE TI, Copacabana, porque já deixaste claro que nem ligou que passou teu dia, e, pior, até fizeste a egípcia; porém não receberás de mim nem um áudio de whatsapp de lamentação. 2. Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, mas, em nome dos bons costumes, tiraram da tua fronte a socorredora coroa de sedução; e calaram as tuas belas risadas ébrias e vãs que ecoavam…

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