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Meu Processo

Tenho ideias. À beça. Umas me enchem mais o saco que outras. Essas, mais insistentes, mesmo que não pareçam tão boas, acabam vencendo a corrida de prioridades e me comprometo com elas. Mas, confesso, sou um consorte relapso.

Eu as deixo anotadas em cadernos, falo delas com os amigos nos botequins, mas demoro pra me mover. Poderia dizer que estou fazendo pesquisa, mas não se parece nada com isso. É uma espécie de procrastinação gourmet, durante a qual esbarro continuamente com a ideia sem a mínima ideia do que estou fazendo.

Mas as ideias são espertas. Elas me conhecem melhor do que eu mesmo e continuam insistindo. Às vezes elas se juntam e vem de bando; vez ou outra, uma morre esquecida depois de dois parágrafos; outras, mais malandras, se aglutinam e viram uma terceira coisa que eu não sei bem o que é. Elas se movimentam enquanto eu claramente fico na retranca. Enfim, um dia, depois de tanta pressão, acabo fisgado.

Nessa hora, acuado, eu escrevo. Compulsivamente. Tão compulsivamente que nem sinto o tempo passar. Quando estou exausto, paro; leio, releio, e não gosto de nada. Não me admira. Nesse primeiro encontro, nada foi planejado. Sorvete de sabor indefinido sempre tem gosto ruim.

Nessas horas lembro que escrever, pra mim, não é dar forma a ideias. Escrever, pra mim, é tentar descobrir o que eu penso a respeito de algo. Aí, cheio de autoindulgência, eu leio, releio, e tento descobrir o que eu penso a respeito do que eu acho que eu escrevi a respeito. E quando encontro algum fiapo de sentido, eu me agarro a ele e reescrevo. Uma, duas, muitas vezes.

Uma hora eu desisto. Seja porque cansei de revisar ou porque cheguei a conclusão que nunca ficará bom mesmo; e abandono o texto em lugares públicos como um órfão indesejado. Em mensagens e postagens na internet; em livros eletrônicos que ninguém lê; em fanzines de uma página distribuídos na praça na frente da minha casa,

Então, quando me livro desse filho sempre maldito, tudo acaba e eu me acabo. Volto pra casa, me deito sozinho no quarto escuro, cheio de saudades do momento da criação e lamentando não ter feito mais essa ou aquela alteração; até que eu me conformo, e, enfim, descanso. Mas não dura muito. Logo, eu sinto, chegará uma próxima ideia, uma próxima inquietação da qual, novamente, não vou conseguir me livrar.

E, como num seriado ruim dos anos setenta, aparece a temível legenda To be continued…

Fazer o quê?

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