Ensaios

O de sempre

05:47 AM

Rod: E aí, cara? O que está rolando?
Lelê: Sua mãe, aquela gorda?
Rod: AHAHAHAH. Ah, não enche. Falando sério, o que está rolando?
Lelê: Na real? Nada. E por aí? O que está rolando?
Rod: Sua mãe? Sacanagem. Nada também.
Lelê: Blz.
Rod: Falow. Vou dar uma cochilada.

Lelê começa a trabalhar. Abre o e-mail, responde algumas mensagens, retoma uma apresentação na qual estava trabalhando no dia anterior. Sem sucesso. Às 8:00 AM tem a primeira reunião. Depois a segunda, e a terceira. Tenta retomar a apresentação, mas não consegue mais uma vez. Dá comida pro peixe e lê os jornais online.

Rod dorme. Mal. Acorda.

11:12 AM

Rod: Acordei. E aí? Tudo bem?
Lelê: Tudo. Acabei de dar comida pro peixe.
Rod: Uau. Que emoção!
Lelê: Total. Dormiu bem?
Rod: Nada. Vou começar a trabalhar.
Lelê: Blz.
Rod: Falow.

Rod revisa as pendências no sistema. Tem pouca coisa, mas fica cansado só de olhar. Como não é nada urgente, faz com calma e atenção. Fica com fome, põe a máscara, e vai na rua comprar uma tapioca e um açaí. Leva a comida pra casa, almoça e assiste um episódio de um reality show. Fica com inveja desse povo que, mesmo confinado, não precisa trabalhar. O chefe manda uma mensagem e ele deixa as pendências de lado para atender à sua urgência urgentíssima.

Lelê prepara o almoço e come na frente do computador, enquanto responde aos e-mails da manhã. Faz mais uma, duas, três reuniões. Dá uma volta pela casa para esticar as pernas. Percebe que o peixe está no fundo do aquário. Dá mais comida, mas ele nem tchuns. Volta pro computador pra mais uma reunião.

15: 34 AM

Rod: Fala!
Lelê: Fala.
Rod: Como estão as coisas?
Lelê: Tudo bem. Meu peixe parece que está mal.
Rod: Sério? Tem veterinário de peixe?
Lelê: Sei lá. Vou entrar em uma reunião agora.
Rod: Falow.
Lelê: Inté

Lelê entra na reunião. Com a chefe. Rola um certo stress. Normal, pero no mucho. Lembra da piada que fez com o Rod. Desliga a câmera, o áudio, e ri por 5 segundos. Liga tudo de novo, fazendo cara de sério. Toma mais esporro, mas sente que não é sério. Mesmo assim é cansativo. Outro dia, outro abuso. A reunião termina. Pensa em retomar a apresentação, mas desiste. Qualquer coisa alegará saúde mental. Não estará mentindo. Faz um sanduíche e vai pro quarto. No caminho percebe que o peixe morreu. Joga ele e a água do aquário na privada.

Rod termina a tarefa do chefe e as pendências. O trabalho, por hoje, terminou. Põe a máscara e vai na rua comprar umas cervejas e um sanduíche. No bar passa um homem vendendo peixes beta em aquários individuais. Não sabe por que mas compra um. Talvez lembre do peixe do Lelê. Volta pra casa e janta, tomando cerveja. O chefe liga e diz que vai mudar de área. Informa que vai indicar ele para o seu lugar. Rod agradece a confiança e desliga. Não sabe como se sentir. Toma uma cerveja, como comemoração ou lamentação.

22: 02 AM

Rod: Manda as novidades.
Lelê: Nenhuma. Ah, o peixe morreu.
Rod: Sério? Que doido. Acabei de comprar um.
Lelê: Não acredito. Um peixe?
Rod: É, um peixe. No mais?
Lelê: Tudo na mesma. Esporro da chefe e tal.
Rod: Meu chefe me ligou. Vai mudar de área e me indicou pro lugar dele.
Lelê: Parabéns!
Rod: Valeu, sei lá. Não sei se vai ser legal.
Lelê: Vai ser, pode crer.
Rod: Tá fazendo o quê?
Lelê: Nada. E você?
Rod: Nada também.
Lelê: Vou me recolher.
Rod: Já?
Lelê: Eu acordo cedo.
Rod: Eu sei. Beleza.
Lelê: Vai descansar também. Amanhã é outro dia.
Rod: Ou o mesmo. Sei lá.
Lelê: É mesmo, sei lá.
Rod: Falow.
Lelê: Inté.
Rod: Inté.

Rod dá comida pro peixe e fica observando ele nadar no seu pequeno aquário. Esquece do reality show.

Lelê fica com saudades do seu peixe. Decide que vai comprar um novo em breve. Dorme e sonha que respira embaixo d’água. Um sonho bom.

Fala aí

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