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“Os Cariocas que lutem”

Quando mudei pra BH em 2010, uma das minhas maiores satisfações era não precisar votar. Como meu domicílio eleitoral é no Rio e nunca me cocei pra mudar o título, toda eleição eu simplesmente justificava. Tinha uma vaga ideia do que rolava na minha cidade natal mas não me pertencia mais. “Eles que lutem”, como dizem hoje.

Cheguei a votar uma vez para governador no ano que me mudei, mas já não me ligava. Tinha muita vontade de tirar o Cabral do páreo, mas já não estava assim implicado na situação. Agora eu era uma espécie de exilado em Minas Gerais, com propriedade pra falar mal da cidade onde nasci. “Os cariocas que lutem”, eu dizia pros mineiros.

Mas não culpo só a minha mudança. Desde 2008 já estava meio desiludido, quando Paes ganhou por 1% depois que inventaram um feriadão no meio da eleição que levou boa parte dos eleitores do Gabeira pra Sana e Saquarema. Não gostava e não gosto do Paes. Achava seu choque de ordem exibicionismo histriônico e quando ele apoiou o fechamento da HELP pra botar no lugar o MIS, Monumento Interminavelmente Suspenso, senti que ele desferiu um golpe mortal no que é o coração do Rio de Janeiro. Tentou criar um Porto Madero no Cais do Porto e fez coro com a fantasia nacional de que o barril do petróleo ia se manter eternamente acima dos 100 dólares e viveríamos no “It’s a Small World” da Disney. Mesmo assim, não me cocei pra tirar ele em 2012. “Eles que lutem”. É assim que fala, né?

Mas o karma é cruel e em 2014 me vi obrigado a voltar. Encontrei exatamente o que eu imaginava: uma cidade de filme de faroeste. Um bando de tapumes bonitos escondendo uma realidade que ninguém queria ver. A cidade, todo mundo via, ia explodir. E explodiu. Mesmo quando estava claro que o milicianismo pentecostal elegeria um projeto de teocrata escatológico para governar uma cidade que sempre teve um pezinho no pecado sem culpa, não me mobilizei. Pra vocês verem, nem me indignei quando amigos comentavam nas redes sociais que iam encher a cara pra poder votar no Crivella sem culpa. Como dizem hoje, mesmo? “Eles que lutem”.

Eu estava errado. EU deveria ter lutado desde o primeiro momento. Se a gente não tivesse relaxado no período do super ciclo e lutado para que as coisas fossem melhores, não teríamos chegado nesse ponto em que Paes virou opção, pois em terra arrasada lata de fiambre é banquete. Essa postura Geração X de deixa pra lá é que nos trouxe até aqui. Por isso, hoje, faço o mea culpa e assumo minha responsabilidade que por tanto tempo reneguei: “Eu que lute”.

Espero te encontrar na luta também. Bom voto e FORA CRIVELLA.

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