Essa semana, no Rio de Janeiro, por conta do G20, parte da população pôde reviver um pouco da sensação da quarentena. Uns se isolaram em municípios vizinhos em busca de tranquilidade e segurança; outros precisaram, por motivos fúteis, trabalhar no presencial, atravessando ruas vazias e correndo riscos (nesse caso criminais e não sanitários); enquanto uns e outros, como eu, tiveram o gostinho(?) de “curtir” uma semana de home office forçado.
![](https://lisandrogaertner.net/blog/wp-content/uploads/2024/11/home_office.jpg)
Como toda história que se repete, não foi bem uma tragédia, nem mesmo uma comédia, mas atendeu a todos os requisitos de uma farsa. Pudemos olhar novamente com mais atenção para as casas uns dos outros e comentar sobre as mudanças nos seus fundos de imagem ou das novas decorações; as conversas, antes tomadas pelo formalismo do escritório, permitiram intimidades que há muito não tínhamos; e a nostalgia, mas não a saudade, se tornou a tônica da maioria das interações pré-reunião. Afinal, não há nada para se sentir falta da pandemia e da quarentena, mas paradoxalmente há muitas coisas que vivemos e das quais lembramos com carinho.
Enquanto a gente brincava de rememorar o que já era, os líderes mundiais também faziam sua farsa rememorada. Como na ECO-92, a qual sou velho o suficiente para lembrar e ter ativamente vivido, frente aos eternos prognósticos negativos para a humanidade, os chefes dos maiores governos do mundo vieram em conjunto, com o Pão de Açúcar de fundo, se comprometer com o que gostariam que fosse feito (pelos outros) se isso não esbarrasse nos interesses deles e daqueles a quem eles servem.
Farsisticamente, enquanto sepultávamos as fantasias do novo normal em requentadas reuniões no Teams, que foram suplantadas pelas realidades do velho anormal, os países assinavam memorandos cheios de boas intenções que nunca serão cumpridas para manter acesa a esperança de que essa espécie hominídea não terá o destino das suas irmãs, mortas pela ignorância da guerra e da fome, pelas mudanças climáticas, e pela imoral violência evolucionária.
Mas não há farsa que dure para sempre. Na quinta feira, esse círculo mágico do teatro da memória já tinha se dissipado. Voltamos para de onde nunca saímos, com a sensação de um carnaval mal vivido, passado trabalhando. Acordando de fantasia e de ressaca, mas sem, pelo menos pra maioria, glitter, fechamos simbolicamente a pandemia e as suas inúmeras quarentenas com um pastiche da sua celebração. Mais uma vez, nada aprendemos, (quase) nada mudamos, e, além de vivermos como os nossos pais, nos tornamos também as pessoas que nunca quisemos ser.
Quantas tragédias bélicas, climáticas, e sociais serão necessárias para que finalmente aprendamos a nossa lição, ou sejamos, enfim, exterminados pela nossa incapacidade de mudar? Não sei, mas a extinção humana tem uma vista bem melhor do home office. |