Picard vem comprovando a tendência que começou em The Undiscovered Country de colocar os Vulcanos como os grandes ideólogos e manipuladores da Federação. O mundo lógico e ético que se prometia nos anos 60, através de Spock, o meio humano, meio vulcano bastardo, se tornou uma ditadura secreta do pragmatismo e do objetivismo.
Spock, como cria de dois mundos, era um utilitarista, democrata, a lá John Stuart Mills. Os Vulcanos frios, porém aparentemente bem intencionados, talvez sempre tenham sido os objetivistas, seguidores de Ayn Rand, que vemos claramente agora nas novas séries.
No fim, é apenas um reflexo das eras. Nos anos 60 queríamos um mundo ético e lógico, meio hippie, mas funcional. Hoje sofremos na mão de uma proto lógica inescapável que se justifica por esse pastiche de meritocracia tecnológica e eficiente, mas não eficaz. Claramente estamos no limiar entre a tecnocracia e o tecnopólio.
Mas pra falar a verdade, o que realmente me incomoda nisso tudo é que Star Trek deixou de olhar para frente para focar no agora.
Talvez essa seja a diferença entre as distopias e as utopias. Nas utopias somos hipermetropes e olhamos para o distante em detrimento do que há agora e dos custos para se chegar ao futuro. Nas distopias somos míopes, impossibilitados de ver o que está a um palmo, focamos nos detalhes na frente do nosso nariz.
O conflito entre Prometeu e Epimeteu continua, agora com vantagem pra Epimeteu.