Poesia

2 burros

(originado de uma brincadeira com a Alícia)

Tem dois burros:
um burro burro e um burro esperto.
O burro burro, coitado, se assume como é: burro.
O burro esperto, deus o perdoe, não nega a sua origem,
de burro,
mas não cansa de lembrar a todos o que diz ser:
esperto.

Me pergunto se os burros estão certos.
Me pergunto se não estamos sendo en-
ganados.
Se o burro esperto fosse tão esperto,
não seria mais esperto dizer que era
um burro burro
ao invés de um burro esperto?
E o burro burro?
Podemos confiar nas suas intenções?
Não será o burro burro apenas um burro
esperto
usando da sua esperteza para fingir que é um burro burro
quando na verdade é, pasmem, um burro esperto?

E se for o contrário?
E se formos duplamente enganados?
E se o burro burro não souber de nada
mesmo
e for apenas
como diz
um burro burro
cheio de humildade como um burro burro
sabiamente deveria
ser?
E se o burro esperto for mesmo
esperto,
apesar de burro,
e nos enganar com a sua falta de humildade,
nos fazendo pensar que é um burro
burro
dizendo que é um burro esperto
quando na verdade é mesmo um burro esperto
que nos faz pensar que é um burro burro?

Ainda há o esperto burro
que acha que todo mundo é burro,
o que não é lá muito
esperto,
enquanto há muito burro esperto
fingindo que é burro burro
pra enganar os espertos burros
que vivem se pavoneando por a-
í.

Haja burro!
Haja esperto!
É burro burro,
burro esperto,
esperto burro.

Chega!
Não aguento mais!
Acho que
nessa história
de burro burro,
de burro esperto,
e de esperto burro,
quem é realmente burro
é o burro burro
que sou eu
a-
qui!

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