A pandemia não é um evento separado. É uma continuação. E essa continuação começa com a chamada para tomar uma cerveja numa aglomeração pública. Jocosamente e já sabendo a resposta, provocam quem fez o convite: “E a pandemia, hein?”
Como autômatos exaltando a sua programada liberdade de expressão e pensamento, os bots de carne e osso atendem ao comando e criticam as medidas sanitárias, os esforços feitos para proteger a população e enveredam, como esperado, pelas rotinas de negacionismo, do climático ao científico, e dançam no fio da navalha do racismo, homofobia e afins.
As interações se tornam repetitivas e ,depois de cumprirem sua programação, os bots resumem a sua atuação confirmando a sua participação na cerveja e desligam seu modo ódio para se verem presencialmente no dia seguinte.
Me pergunto o que fazemos nesses quartos chineses tentando acreditar que há inteligência, artificial ou não, nessas conversas. Por que ainda tentamos buscar algum resquício de humanidade, empatia e compaixão nessas trocas autoindulgentes? Inteligência até há, mas o que nos falta é a humanidade, que surge justamente da incerteza, do não saber, do ter dúvidas, do sentir medo do futuro e do não ter medo de assumir a nossa ignorância frente ao mundo. A reflexão necessária para isso não harmoniza com as redes sociais.
Nesse segundo round de 2018, repercutindo o primeiro onde um terço da população brasileira protegida da dúvida pelo ódio do fundamentalismo político escatológico elegeu um imbecil, um bastão genocida, essa mesma população agora se oferece e nos oferece para Holocausto.
Graças a Deus, sou agnóstico e não me rendo a divindades terrestres ou mitos de prateleira e nesse altar não vou subir.
Boa cerveja para os demais. Para nós resta o arquivamento de conversas do Whatsapp.