Numa taverna no interior de Westeros, um homem visivelmente cansado e vestindo pesadas peles entra batendo os pés. Os poucos clientes e o taverneiro o cumprimentam em silêncio. O homem retribui com um leve baixar de cabeça. Ele pára no meio da taverna como se procurasse por alguém. Numa mesa do canto, um homem, mais jovem e menos cansado, acena para ele.
– Posso sentar?- o homem se aproxima.
– Claro, amigo- o jovem lhe recepciona.- Taverneiro, duas cervejas. Então, como estão as coisas?
– Difíceis. Você sabe. E esse frio? Parece até que o inverno já chegou.
– Pois, é.
– O pior é a falta de dinheiro. Depois que Joffrey assumiu o trono, esses impostos estão de matar.
– Mas tinha uma razão. Era pra pagar a guerra.
– A guerra já não acabou?
-Pois, é.
– Por falar nisso, que sacanagem, né?
– O que?
– A maneira que acabaram com a guerra. Mataram Rob Stark, a mulher, o filho não nascido e até a mãe. E com requintes de crueldade. E num casamento… mortos pelos seus pretensos aliados…cá entre nós, bruta trairagem.
– Pois, é.
– Que azar dessa família, não é mesmo? Ned Stark vira mão do rei, depois é executado pelo Joffrey…
– Foi isso o que começou a guerra, né?
– É. Além dessa confusão toda, a instabilidade administrativa tá braba. Toda hora mudando de mão… Ned, Tyrion… Vamos ver se agora com o velho Lannister as coisas melhoram.
– Dúvido muito.
– Por quê?
– Os Lannisters sempre pagam suas dívidas, certo?
– Certo.
– A pergunta é: com o dinheiro de quem eles fazem isso?
– HAHAHA! Bem pensado. Mas, cá entre nós, eu ainda tenho fé que agora, ou muito em breve, as coisas vão melhorar.
O taverneiro se aproxima com as cervejas.
– Duas geladas, para um tempo frio- ele serve os homens.
– Fazer o que, não? – o homem em peles responde.- Bebidas geladas para corações gelados.
– Diga, taverneiro,- o mais jovem o convida à conversa.- Estávamos falando de política. Você tem a mesma opinião que meu amigo? As coisas vão melhorar?
– Sinceramente, senhores? Não acho, não.
– Por quê?
– Tenho ouvido umas histórias muito esquisitas sobre coisas sobrenaturais rolando após a parede de gelo. A Guarda Noturna não parece dar conta de segurar uma invasão. Além disso, dizem que um grande exército está se formando além mar.
– Boatos!- o homem em peles diz.- Agora que Joffrey vai se casar, seu reinado vai amadurecer.
– Casar?- o taverneiro se espanta.- Vocês não ficaram sabendo?
– O que?
– O rei foi envenenado em suas bodas!
– Como?
– É, isso mesmo. Agora é que a situação vai realmente ficar instável…
O taverneiro se vai, deixando os dois homens aturdidos segurando suas cervejas. Depois de um longo momento de silêncio, o homem em peles se manifesta:
– Pelos deuses! Não temos um descanso.
– Parece que não.
– É toda hora uma doideira dessas. Onde já se viu. Esse pessoal no governo não tem responsabilidade?
– Acho que não.
– Enquanto eles ficam nesses jogos de poder, estamos aqui sem dinheiro, sem segurança, sem saúde.
– Sem saúde?
– É, o curandeiro da vila foi levado pra servir na guerra e ainda não voltou.
– Ah, é! O governo tinha que olhar mais por nós.
– Concordo. Deveríamos fazer algo…
– Tipo o quê?
– Sei lá, nos juntar todos e irmos para as ruas de King’s Landing pedir nossos direitos. Ocupar King’s Landing.
– Fala baixo. Alguém pode ouvir.
– Já estou no meu limite. Precisamos agir! Botar o povo na rua.
– Ah, e você acha que isso vai funcionar? É capaz de mandarem a guarda nos matar todos! É capaz até de usarem aquele fogo selvagem que usaram na batalha de Blackwater. O povo não tem vez amigo.
– É verdade. Estamos num mato sem cachorro. E olha que o inverno ainda nem chegou.
– É mesmo! Nada é tão ruim que não possa piorar. Imagina só no Inverno.
– Pois, é. Imagina só no Inverno.