Campo e contracampo – O campo é o espaço que é focalizado pela câmara. Já o contracampo é uma sucessão de tomadas ou planos mostrando ora um, ora o outro interlocutor de um diálogo. (fonte)
Hoje em dia não é difícil achar pelas ruas estátuas mescladas ao cenário urbano. Ao invés de estarem montadas em inatingíveis pedestais, como outrora, as figuras dos mais recentes homenageados compartilham o espaço da cidade conosco, simples mortais. Seja numa mesa de bar, num banco de praça ou num canto de uma calçada, lá estão elas, mostrando que são gente como a gente e, em contrapartida, prontas a terem suas “privacidades” invadidas por curiosos e turistas que muitas vezes nem sabem quem elas representam. Um momento TV Fama do moderno urbanismo.
Hoje de manhã, me perguntei o que esses habitantes imóveis da cidade, tão fotografados e observados, teriam como vista. O que seus olhos de bronze estariam observando enquanto eram observados? Como seria para eles serem não os objetos dos voyeurs, mas serem eles mesmos os voyeurs da cidade? Se as estátuas são o nosso campo, qual seria o contracampo?
Peguei uma bicicleta e fui lá matar a minha curiosidade.
Cheguei rapidamente até o Leme, deixei a bicicleta de lado, e, poucos metros depois, sentado no Fiorentina, encontrei Ari Barroso. Na sua mesa, uma cadeira vazia nos convida a compartilhar da sua vista.
Segui a pé pela Atlântica, subi pela Princesa Isabel (que até fotografei mas não incluí nesse texto por estar, merecidamente, num grande pedestal), e na saída do túnel novo, estava Braguinha, na sua melhor imitação de coringa, dando boas vindas a moradores e visitantes.
Peguei uma nova bicicleta em frente à estátua do rei das marchinhas e voltei à Atlântica. Em frente ao Copacabana Palace, onde mais?, esbarrei com Ibrahim Sued batendo ponto no ambiente do Society.
Voltei pra ciclovia e no fim do posto seis fui saudado por um amistoso e, paradoxalmente, energético Dorival Caymmi à caminho de Ipanema ou de Maracangalha, vai saber.
Pra finalizar, o protocolar encontro com Drummond. Na praia, mas dando as costas pro mar. Seria timidez ou dor de cotovelo?
Não dou 5 anos para termos estátuas em homenagem aos turistas desconhecidos sendo fotografadas por turistas igualmente anônimos. Ao invés de campos e contracampos, teremos apenas espelhos. Já não é meio assim?
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