Nunca soube fazer turismo. Fui obrigado algumas vezes, mas resisti. Não ouvia os guias, faltava aos passeios coletivos, desprezava os locais históricos e mais conhecidos. Isso não quer dizer que não goste de viajar. Eu gosto, mas de maneira esporádica e sempre com um objetivo frouxo que permita o inesperado se manifestar.
Talvez por isso sempre curti viajar a trabalho. Me dava a sensação de estar aproveitando as cidades como um local, o que sempre tentei reproduzir nas viagens a lazer. O meu maior prazer nessas pequenas odisseias era fazer uma amizade que permanecia pós férias, receber um agrado ou gesto de cortesia de um nativo ou que me recebessem com um “o de sempre?” nos restaurantes que frequentava. Eu queria a experiência de viver nos lugares, não a de visitá-los.
Hoje, assistindo a Falando Grego, uma comédia boba sobre uma guia e seu grupo de turistas estereotipados viajando pela Grécia, me perguntei se o turismo ia continuar pós pandemia. Afinal, o que motiva pessoas a viajarem para algum lugar onde nada tem a fazer?
Desconfio que mais de 90% só vão porque podem, porque podem se endividar pra ir, porque alguém recomendou, ou para aproveitar férias longe de casa num local não repetido, afinal é preciso fazer algo incrível com o tempo que a legislação trabalhista nos permite longe da labuta.
Poucas viagens se justificam por desejos de fato, afinal desejos são poucos e tendem a ser obsessivos. Por exemplo, conheço uma pessoa que viaja compulsivamente para Buenos Aires para reviver seus sonhos milongueiros da juventude. As viagens deveriam ser desse tipo, não o turismo que temos hoje em dia: uma lista de coisas a fazer para se provar que se foi a um lugar. Caixão não tem gaveta, nem arquivo pra guardar as memórias de uma série de experiências genéricas e caras.
É óbvio que você também pode se lançar rumo ao inesperado, mas aí também vale qualquer coisa, até visitar a sua própria cidade, usando algum método pra randomizar a experiência como o Guide to Experimental Travel.
A minha impressão é que seremos mais econômicos em nossas experiências, seja por falta de dinheiro, precauções de saúde ou falta de costume, e só nos mobilizaremos quando realmente o desejo bater forte. Mas posso estar errado. Já tem gente planejando carnaval pro fim do isolamento. Já ouviram falar?