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O eremita

Hoje, depois de mais de um mês sem botar os pés pra fora do prédio, fui ao Supermercado. Engraçado que durante o curto caminho, na minha mente ficou martelando a lembrança de um verão adolescente, quando uma amiga esotérica da mãe leu o meu tarot e dividiu a minha vida em 5 fases.

Até os 15, minha vida estaria sob a influência de O Eremita. Isso representava a minha busca no mundo por uma luz no meio das trevas. Não achei a luz, mas entendi as trevas e quis acender o mundo.

Dos 18 aos 25, o arcano que me regeria seria O Mundo, aproveitando tudo que o Universo tem para nos oferecer. Para o bem e para o mal. Rodando, vendo tudo, mas correndo o risco de não chegar a lugar nenhum; o que de fato ocorreu. Mas de nada me arrependo, foi quando aprendi a ser quem eu sou.

Dos 25 aos 35, seria a vez de A Imperatriz. A fase de receber as benesses do mundo, as quais, agora percebo, não soube aproveitar. Me fiz de modesto ou simplesmente fingi não ligar por despeito e medo. Um desperdício.

Dos 35 aos 45, pagaria meus pecados com O Enforcado. Uma era de receber o que plantei, tanto de bom como de ruim. Sofri, e me tornei vítima dos meus próprios defeitos. Um verdadeiro schlemiel. Mas, acho, aprendi que tudo é passageiro e consegui me corrigir em alguns aspectos.

E agora, dos 45 em diante, voltei à fase de O Eremita.

Segundo Rachel Pollack, em Seventy Eight Degrees of Wisdom, o Eremita faz parte da segunda linha do Tarot e transfere os desafios externos da primeira linha para o interno. Nessa busca pelo auto-conhecimento, o Eremita faz dois movimentos: um para dentro, de meditação, silêncio, e desprendimento do ego e do convívio social; e outro pra fora, iluminando o caminho para os outros, e os acolhendo nas suas necessidades de conhecimento.

Não sei o que virá desse revival do Eremita na minha vida, mas acho curioso que esteja começando essa fase enfrentando uma quarentena. Talvez seja o momento perfeito para iniciar um recolhimento final para que comece a dividir o que aprendi. A pergunta é: aprendi algo? E se aprendi, isso interessa a alguém?

Hoje, depois de mais de um mês sem botar os pés pra fora do prédio, percebo que o movimento para dentro está ocorrendo. Claramente, acabando a quarentena, as coisas serão diferentes para mim. Não sinto falta de estar fora e nesse período tenho entrado em contato com aqueles que me são caros e revisitando os laços que quero manter. Menos e, ao mesmo tempo, mais.

Quanto ao movimento para fora, agora que eu voltei a ser o Eremita, retornou a vontade de ler o tarot para os outros e retribuir esse gesto que tanto me ajudou nos meus 15 anos. Depois de 30 anos, chegou a hora de fazer esse reencontro.

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