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Eremita, o Retorno do Louco

Estava ouvindo o Bobagens Imperdíveis da Aline Valek e ela me lembrou que, no Tarot, a carta do Eremita, como a do Louco, é uma carta em e de movimento. Um movimento a pé. Um movimento heróico. Porém, enquanto o Louco segue para a direita em direção ao nascer do Sol, dando início ao movimento, o Eremita vem pra esquerda, em direção ao poente carregando a sua lanterna.

Ouvindo isso, lembrei quando, no verão dos meus 15 anos, uma amiga esotérica da minha mãe leu o meu tarot, fez minha numerologia e dividiu a minha vida em 5 fases.

A primeira, do nascimento até os 18 anos, seria regida pelo Eremita, caminhando nas trevas em busca da luz. Dos 18 aos 25 a carta do Mundo, aproveitando o que o Universo tem para nós oferecer, com todo excesso e risco que essa descoberta permite. Dos 25 aos 35 seria a Imperatriz, a fase de receber as benesses do mundo. Dos 35 aos 45 o Enforcado, uma era de receber o que plantou, tanto de bom como de ruim. E a partir dos 45 eu voltaria ao Eremita. Confesso que até agora bateu bem direitinho. Há uma semana fiz 46 anos e considero que, mística e oficialmente(?), entrei na fase final.

Sempre imaginei que essa última fase seria um movimento de recolhimento. Que depois dessa caminhada das trevas ao mundo, com seus altos e baixos, encerraria com um retorno para a autorreflexão. Eu estava enganado. Não é um ponto final. Como bem lembrou a Aline é um caminho de volta. É um retorno. Não é uma chegada. É um processo.

Agora, o Eremita começa o retorno para as trevas de onde partiu e traz as descobertas que fez a respeito do mundo. Impossível não lembrar do prisioneiro que se libertou da caverna de Platão e, depois de quase se cegar com o sol, retorna para contar aos outros prisioneiros o que viu. Parece um caminho lógico, mas há opções e riscos. Eu poderia não voltar e ficar no mundo; poderia voltar pra caverna e me calar, evitando o risco de não ser ouvido, de ser execrado e de ser considerado louco; poderia até tentar convidar outros ao conforto da caverna. Mas eu, como o Eremita, prisioneiro da minha lanterna, escolhi compartilhar. Isso não é certo, nem é errado. É apenas o meu caminho. Só espero que o Eremita não se torne o Louco no final dessa história.

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