Se enganam aqueles que desejam a morte do Bolsonaro. Ele não deve morrer. Não agora. Não ainda. Ele precisa viver. E muito.
Precisa ser processado e perseguido com vigor; ver seus filhos presos e seu clã dizimado; ser sabatinado e humilhado por horas pelo Centrão que o trairá. Ser retirado do cargo, desmoralizado, e perceber que aqueles que o apoiavam nunca o amaram de verdade. Precisa ser julgado por um tribunal internacional pelo genocídio que planejou e executou. Precisa pedir ajuda aos seus amigos ditadores e receber um não.
Então, num estranho movimento do destino, o tribunal não o condenará à morte que tanto idolatra, nem à tortura que deseja para tantos. O tribunal o condenará a viver até o fim de seus dias aqui, entre nós da São Salvador.
Ele será colocado para morar num quartinho de fundos numa das casas antigas da Senador Corrêa. Aos domingos será obrigado a trabalhar na barraca do Bigode entregando pastéis e caldos de cana que não poderá consumir. Às quartas feiras deverá auxiliar o projeto social da praça, ouvindo e alimentando tantos que ele ajudou a jogar de volta na miséria. Nos fins de tarde irá circular os bares ajudando com pequenos serviços para poder comprar seu leite condensado e seu pão francês com as esmolas que lhe daremos. E de noite ele se recolherá, mas não conseguirá dormir, ouvindo o povo comemorar, rindo, feliz por viver num país onde ele não (des)manda nem importa mais.
Ele verá a nossa alegria, nossa gentileza e perceberá que o nosso ódio se tornou pena. Que, quando olhamos para ele, apenas vemos todos aqueles amigos e parentes que, por medo, ignorância e soberba, se entregaram ao mal. Sentiremos pena, sim, mas não o perdoaremos. Nunca. Como não perdoaremos aqueles que o apoiaram.
E um dia, quando a idade e o dia certo chegarem, ele vai morrer de causas naturais, não sem antes entender todo o mal e dor que causou. E a culpa que sentirá em seus últimos momentos de vida será tão grande que abrirá uma fissura na existência expulsando toda a maldade da Terra por mil gerações. E, enfim, estaremos livres dele e de tudo que ele representou.
Por isso lhe desejo uma longa vida. Uma morte rápida o tornará um mártir que só prolongará a sombra que projeta. Uma longa vida de tormento e expiação o tornará uma lição e nos fará melhores.
Muitas infelicidades, Bolsonaro, e muitos, longos e excruciantes anos de vida.