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Labirintos e labirintos

Sou um colecionador de técnicas criativas e, nessa busca incessante por novas ferramentas e experiências, ontem comecei a fazer a oficina gratuita da Sheyla Smanioto, O Caderno como um Jardim. Não consegui assistir a aula ao vivo, nem antes de dormir, para fazer o exercício proposto, mas hoje de manhã rolou.

Na primeira aula, Sheyla trouxe a ideia do labirinto como uma metáfora para a encontrar uma saída dos bloqueios criativos e dos vieses inconscientes que te impedem de criar. É uma metáfora forte e esperta, pois, ao invés de olhar para os obstáculos como paredes intransponíveis, os transforma em caminhos, às vezes tortuosos e dolorosos, mas que sugerem a esperança de uma saída. Foi nesse ponto em que o curso me perdeu. Nos labirintos.

Em inglês, o que chamamos de labirinto tem duas palavras para designá-lo: Maze e Labyrinth. Apesar de terem características em comum- caminhos misteriosos, sem um fim à vista, que precisam ser desvendados- há uma diferença fundamental entre os dois. O Maze é um caminho com múltiplas escolhas, algumas certas, outras erradas, que irão levá-la, ou não, à sua saída ou ao seu centro. O Labyrinth, por outro lado, é um caminho único, sem saída, mas também sem rotas erradas, cujo trilhar leva apenas ao seu centro.

Do site https://sketchplanations.com/maze-labyrinth

Quando usou a metáfora, Sheyla se referiu muito ao primeiro, ao Maze, trabalhando como saímos deste labirinto ou sobre as escolhas de caminho que precisamos fazer. É uma visão pragmática e de iniciação mística que implica numa resolução: siga o mapa e não ficará perdida; e, pior, que o labirinto é transponível. Aí está o meu maior ponto de discordância. Pra mim, esse labirinto, entendido como Labyrinth e não Maze, não é um obstáculo a ser vencido. Pra mim, pior, o labirinto é tudo o que há.

Na minha opinião, sendo brutalmente taoísta, estamos sempre no caminho. Podemos ficar cansadas, com medo, frustradas e até sentarmos no chão para chorar em alguns momentos, mas esse é o caminho a se seguir. O obstáculo, na verdade inexistente, é o que faz a nossa vida. Portanto, em vez de tentar encontrar uma saída ou um caminho mais rápido, precisamos mudar a nossa forma de lidar com o labirinto e abraçá-lo, entendendo as suas voltas como reencontros com nós mesmos, e as suas repetições como pistas do que encontraremos em seu centro.

Claro que dizer às que sofrem com bloqueios criativos que esses percalços são inevitáveis e que deveriam, inclusive, ser celebrados não é muito reconfortante. Porém não me vejo seguindo mapas quando o caminho, por mais doloroso que seja, é o que faz o encontro com o meu centro realmente valer a pena. Enfim, o que me falta não é um mapa, mas uma mudança de consciência. E para atingí-la não preciso vencer o labirinto, mas simplesmente aceitá-lo.

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