Cara, tem coisas que é até melhor não ficar sabendo. Mas como fiquei sabendo, não estou conseguindo ficar calado. O pior é que isso me pegou logo depois da minha volta da GENCON, onde entrei em paz com o meu lado gamer e mudei muito o que eu pensava sobre o hobby.
Do que estou falando? Bom, há pouco tempo atrás, a Rede RPG publicou um texto comentando sobre uma mudança de paradigma no RPG nacional. Estranhamente o artigo se focou na comparação entre os tempos de hoje e uma suposta “Era de Ouro” do RPG Nacional. Pelo que entendi do artigo essa tal época dourada comercial ocorreu nos meados dos anos 90, quando eu era particularmente atuante no meio. Engraçado que eu não me lembro de época de ouro nenhuma. Foi uma época legal e tudo, mas não tinha nada de época de ouro. O que havia realmente era mais trabalho, mais gente disposta a trabalhar, um certo deslumbramento e muitos erros sendo cometidos.
Me lembro que para fazer as RPG RIO, com os poucos recursos disponibilizados pelo Osny e pela Esther, eu e outros costumávamos ficar dias inteiros na Gibiteria demonstrando jogos e correndo atrás de mestres e jogadores. Nas vésperas do evento, reuníamos uma galera legal, que é amiga até hoje, para “transferir” mesas entre os andares da UERJ e preparar salas e salas de jogo. Na 3a. RPG RIO, a pobre da Nicole inclusive serviu de modelo para a marca de giz no chão da sala de terror e perdemos a cabeça de um manequim usada para a decoração que nos foi emprestada por um dos jogadores. Apesar de todo esse trabalho, ninguém reclamava do esforço. Afinal os resultados compensavam e olha que eles não eram financeiros.
A RPG RIO chegou a reunir muita gente mesmo, quase 20 mil jogadores, segundo contas exageradas do Steve Jackson em 1993, mas não vivíamos uma “Era de Ouro”. Fomos ao primeiro Encontro Internacional para botar água nos planos da RPGA Brasil com nosso próprio dinheiro e ficamos hospedados num albergue na PQP. Coisa de espírito de porco e muito divertido, mas não era uma “Era de Ouro”. Tivemos eventos de jogos estranhos e campeonatos de RPG. Em todos os lugares pipocavam eventos e iniciativas. Haviam jogos amadores muito interessantes (alguém lembra do Abismo baseado no sistema FASERIP?). Mas não era uma “Era de Ouro”. Tivemos lives geniais, incluindo um memorável de DC, onde joguei com o duas caras. Foi incrível. Uma época sensacional. Mas não era uma “Era de Ouro”. Pelo menos, não como o artigo quer passar: uma “Era de Ouro” comercial.
Ao contrário do que o artigo tenta aparentar não tinha um bando de gente “vivendo” de RPG. A maioria dos envolvidos era estudante, alguns tiraram algum dinheiro com algumas coisas, mas não lembro de ninguém botando o boi na sombra. Tivemos algumas grandes editoras no mercado nesse período, mas todas acharam que o mercado de RPG seria algo que nem o mercado de livros não didáticos se tornou no Brasil: uma mina de ouro. Lembro como fiquei espantado ao ouvir o editor da Ediouro falando que ia ficar rico com o RPG e como o pessoal da Grow nos recebeu e deu a clara impressão que o D&D iria se vender sozinho como um Banco Imobiliário da vida. Havia mais investimentos, é verdade, mas também havia muitos iludidos.
A impressão que o artigo me passou tem muito a ver com a concepção de “arte e artistas” no Brasil. Normalmente, algo só se justifica por aqui no Brasil apenas quando se torna atividade de tempo integral. Você pode ser um puta pintor, mas se você se sustenta de outra forma, você não é um artista. Artista é o Romero Brito que vende papel de parede pra Madonna ou a Carla Perez que faz axé infantil evangélico e aparece no TV Fama. A mesma lógica rola no RPG. Se aquilo não é sua atividade de tempo integral, sua obra será considerada menor. Ou, o RPG só é importante quando aparece no Fantástico. Uma puta babaquice, né?
Não existe era de ouro oficial do RPG, nem vai existir. Nem aqui, nem nos EUA, nem em qualquer lugar. No auge da TSR, o Ed Greenwood continuava trabalhando como bibliotecário. O santo Frank Mentzer trabalhou em padaria e tudo para sobreviver quando seu empreendimento pós TSR faliu. Quem lê o reporte anual da Steve Jackson Games vê como é necessário ter austeridade financeira para fazer o negócio sobreviver. Sempre fomos mercado de nicho. Tivemos um desenho animado baseado no AD&D, dois filmes (ruins) com o nome do Dungeons & Dragons, e uma cena no ET. Pronto. Você quer jogar ou quer que o RPG seja considerado um troço cool? Se escolheu a segunda opção, te aviso, escolhe outro hobby que você tá no lugar errado.
O que me dá mais ódio nisso tudo é que esse tipo de postura de “sabe tudo” só alimenta um bando de briga de egos ridículas que de nada nos serve. Quer ajudar o RPG? Mobiliza o pessoal e age sem orgulho pessoal ou ambição. Ou só um pouquinho. Como a gente fazia nessa tal “Época de Ouro”. Faz por que é de coração, não por remorso. É preciso fazer e fazer certo, pelas razões corretas, não por que vou ficar rico, bonito ou famoso. Afinal, não vamos ficar mesmo e se ficarmos não vai ser o RPG que nos dará isso.
Esse foi o grande aprendizado que tive esse ano na GENCON. Enquanto tínhamos os enormes stands da Wizards, Mayfair, Fantasy Flight e afins, tínhamos pequenos stands onde as pessoas vendiam seus jogos e idéias sem o menor pudor ou vergonha. Pelo contrário, tinham o maior orgulho. Num deles, após me demonstrar um jogo, por sinal, bem fraquinho, um garoto me diz com convicção e franqueza:
– Esse jogo foi desenvolvido pelo meu primo que tá alí atrás, e estamos eu, ele, meu avô e minha avó o demonstrando. Esperamos que tenha gostado e sinta-se a vontade de nos dizer o que achou e como podemos melhorar. Estamos sempre aprendendo e queremos disponibilizar sempre os melhores jogos para nossos clientes.
Fiquei sensibilizado, mas não a ponto de comprar o jogo. Você acha que para esse garoto importava se essa é uma “época de ouro” sancionada oficialmente ou não? Claro que não. Para quem faz as coisas com carinho e respeito aos seus, sempre é uma época de ouro. Espero que mais pessoas no Brasil estejam vivendo a SUA Era de Ouro pessoal do RPG. Eu sei que estou, desde 1986. E vocês?
Olha, Lisandro, acho que você interpretou errado o que eu escrevi. Primeiramente, a época a
Por “bolha D20” leia-se: enxurrada de títulos que não seguiam um padrão mínimo de qualidade.
Cala a boca, Telles. E vá se foder, antes que eu me esqueça, seu mau-caráter.
Legal o artigo, e a continuação da discussão levantada pelo Marcelo Telles. Acho que houveram alguns mal entendidos entre os dois, mas para quem não está participando do conflito, é interessante ver as coisas de fora. Eu que não sou nenhum ancião do rpg como vcs, e que comecei a jogar já na metade final do D&D 3e, e no início do novo Mundo das Trevas, e que não acompanhei os anos 90 do RPG brasileiro, posso dar minha humilde opinião de outra forma. É inevitável que os acontecimentos do início desta década, especialmente o caso Ouro Preto, dificultaram a situação de todos nós. Foi uma época difícil para se encontrar um grupo, ou ainda para jogar, quando já se tinha um. Mas de lá para cá as coisas parecem estar se ajeitando de alguma forma. Não vejo algo parecido como a abundância descrita nas análises dos anos 90, mas vejo grupos por aí, jogando ou tentando jogar, ou ao menos gente querendo. Não sei como as coisas serão futuramente, mas se continuarem crescendo lentamente como me parece que estão, acho que virão bons momentos para nós. E que as iniciativas de cada um sejam mantidas. Abraços.
Roberto, eu não concordo com essa visão de que o crime de ouro preto tenha tido esse impacto tão grande assim no mercado. Acho que talvez sim, tenha tido algo diretamente ligado a jogos de temas mais agressivos como Vampiro, mas não para um todo.
Nesse período dos crimes, eu mestrei e ensinei RPG inclusive em igrejas em Niterói, e mantinha, quando tinha tempo livro, encontro de pessoas no playground do meu prédio com cerca de 100 pessoas.
O que eu vejo, nesses ultimos dois, três anos, é que estamos com pessoas produzindo e realizando com uma preocupação maior de qualidade e sem se preocupar com briguinhas ou outras mesquinharias. E isso acaba passando uma impressão de Era de Ouro.
Como o Tiago, eu torço muito para que nunca voltemos para os anos 90, onde pequenos editores que mentiam suas tiragens e lançavam produtos horríveis discutiam e batiam boca e viam suas iniciativas falirem por amadorismo e falta de qualidade.
Longa vida para as pequenas editoras que se ajudam e produzem material de qualidade, com espaço em eventos como nunca tiveram nos anos 90 e cordialidade jamais vista.
Concordo com vc Wallace!
Longa vida às pequenas editoras, e ao RPG de modo geral.
Talvez eu tenha me expressado mal, mas acho que vc me entendeu errado: eu afirmei que os crimes “envolvendo” rpg dificultaram a vida dos rpgistas no geral. Posso realmente estar enganado, mas o seu comentário otimista é raro dentre os comentários sobre as consequências de tal evento.
Como sempre, o amigo Lisandro trazendo sabedoria e experiência própria para esta discussão.
Era de Ouro só existiu nos quadrinhos, e no coração de todos nós. Para mim, a década de 90 e o inicio dos anos 00 foram de ouro, porque eu nào precisava trabalhar para sobreviver e tinha MUITO tempo disponível para jogar, ocupando praticamente todos os dias de semana com jogos de RPG diversos. Ajudei também em alguns eventos, fiz minha parte onde consegui.
Hoje, junto com 3 amigos, tenho uma pequena editora, que não traz nenhum nome de sucesso lá de fora (já que temos coisas ótimas aqui no Brasil, não precisamos babar ovo de gringo como os companheiros da “Era de Ouro”), mas que está aí tentando mostrar pra turma que qualquer um pode publicar seu jogo, e se divertir com isso.
Acho que se existisse uma Era de Ouro fora dos quadrinhos, para mim seria hoje. Com tantos jogos independentes publicados, e mais alguns que a gente percebe estar no forno, pois a turma começou a notar que é fácil e barato publicar seus livros, ]a quantidade de idéias e discussões que estamos promovendo sim denota anos dourados! Lançamentos como Busca Final, Terra Devastada, Violentina, Old Dragon e tantos outros aí podem não importar para estas pessoas que acreditam no sucesso dos 10.000 exemplares impressos, mas é tudo de bom para os autores!
Que a Era de Ouro de editoras falindo, lançamentos mal planejados e pessoas mesquinhas cheias de opinião para dar, mas nenhum resultado para mostrar, fique lá nos anos 90! 2011 já é tudo de bom, e o restante da década só tende a melhorar!
Uma coisa a ser colocada: dizer que o público reduziu é também ignorar o fato de que nunca foi feito um levantamento oficial de jogadores.
E fico com o Lisandro em outro ponto: nunca existiu um ápice no mercado de rpg e nem vai ter. O que havia era um maior INTERESSE EM INVESTIR, por pessoas que não conheciam o mercado. Daí que se tem a ilusão que existiam mais jogadores, existia maior acesso e existia igualmente uma quantidade de pessoas maior para trabalhar. Só isto.
Atualmente não temos mais nada disto, mas, de fato, isto significa encolhimento? Significa maior dificuldade em arrumar grupo ou ainda uma análise medíocre com base em achismos e rusgas?
Eu trabalho em escolas, como professor, desde 2005. Eu sempre vi, em todas as escolas onde eu trabalhava, alunos com livros de rpg e a felicidade deles em descobrir que eu também jogava. Na minha época de estudante (que foi até 2002) eu nunca via pessoas que gostassem do hobbie pela escola. Quer dizer que nesta época as pessoas não tinham interesse? Por favor, existem contextos a serem vistos e sim, hoje eu posso dizer que vejo mais jogadores entre meus alunos do que colegas meus que jogavam na minha época de estudante.
Por isto que hoje existe uma cautela maior por parte das editoras que estão começando em não achar ali um filão de ouro. E é mais sábio isto que ficar esperando uma época onde “haviam mais jogadores”.
Dados empíricos não valem nada sem comparação.
“- Esse jogo foi desenvolvido pelo meu primo que tá alí atrás, e estamos eu, ele, meu avô e minha avó o demonstrando. Esperamos que tenha gostado e sinta-se a vontade de nos dizer o que achou e como podemos melhorar. Estamos sempre aprendendo e queremos disponibilizar sempre os melhores jogos para nossos clientes.”
Putz isso me deixou deprimido =/
Porra, Lisandro!
Por isso que você é um melniboneano do bem! 😀
Esse é um dos artigos mais sensatos que li em todos esses anos sobre RPG.
Fora absurdos que se dizem aí que o RPGcon não teve sequer mil participantes. Pô, esse ano o evento foi até mais sem-vergonha mesmo (culpa da organização mesmo, não do público), mas MENOS DE MIL PESSOAS?
A FRI, que o pessoal aí costuma esquecer aí nessas “análises” teve um volume de vendas dos participantes que seria impossível se manter com um público desses.
Graças a Deus uma coisa que está mudando mesmo no pessoal envolvido no RPG é essa mania feia de se esconder e maquiar números. O pessoal da FRI vendeu bem demais, valores parecidos com o que eu vendi com os produtos da Jambô no meu estande.
O evento esse ano, mesmo sendo mais fraco que os anteriores, teve sim, mais de 2 mil participantes e claro que é menor que o EIRPG. Não porque vivíamos em uma suposta era de ouro, mas porque não fazemos um trabalho grande de divulgação e não gastamos o dinheiro que a Devir gastava no evento.
Muito disso vem do fato de que eu não vivo de RPG e não posso despender mais tempo que o atual com o RPG, o que é uma pena.
Como vivo dizendo há séculos: O RPG sempre foi um mercado de nicho, que durante um curto período esteve em voga na mídia e se criou ilusões a respeito dele. O próprio pessoal que “vivia de RPG” nos anos 90, era mais jovem e tinha outro padrão de vida, que permitia que os parcos salários fossem suficientes. Hoje, com a idade chegando, nada mais normal que o mercado pequeno do RPG não comporte o padrão de vida que esse pessoal almeja, né?
Ótimo artigo Lisandro!
O momento do RPG nacional nos últimos 2 anos tem sido de novidades extremamente interessantes, tanto em relação a qualidade dos livros, como variedade e formas de lançamento. Avaliar apenas pela tiragem, seja hoje, seja nos anos 90, é um erro tosco, já que a tiragem não diz muito se não tivermos vendas né?
O que é melhor? Um livro que teve tiragem de 200 cópias se esgotar em 6 meses, ou um com tiragem de 2000 que fica 4 anos encalhado?
Para além dessa discussão do mercado, o RPG nacional nunca viu uma variedade tão interessante de títulos em português como teremos ao final do período de 2010-2011. Isso com uma brodagem extrema entre as editoras, e uma comunidade independente cada vez mais forte.
Pelo menos aqui na Secular a “Era de Ouro” é agora : )
Sei que é mongol comentar o próprio comentário, mas inspirado nessa discussão e no como as tiragens apareceram pra bancar o argumento de uma “Era de Ouro”, escrevi um post sobre o tema no Área Cinza, vai que alguém se interessa…
http://www.areacinza.org/2011/09/o-que-a-tiragem-significa/
Mongol é um termo tão politicamente incorreto, que coisa feia.
Ótimo artigo Lisandro!
O momento do RPG nacional nos últimos 2 anos tem sido de novidades extremamente interessantes, tanto em relação a qualidade dos livros, como variedade e formas de lançamento. Avaliar apenas pela tiragem, seja hoje, seja nos anos 90, é um erro tosco, já que a tiragem não diz muito se não tivermos vendas né?
O que é melhor? Um livro que teve tiragem de 200 cópias se esgotar em 6 meses, ou um com tiragem de 2000 que fica 4 anos encalhado?
Para além dessa discussão do mercado, o RPG nacional nunca viu uma variedade tão interessante de títulos em português como teremos ao final do período de 2010-2011. Isso com uma brodagem extrema entre as editoras, e uma comunidade independente cada vez mais forte.
Pelo menos aqui na Secular a “Era de Ouro” é agora : )
Ótimo artigo Lisandro!
O momento do RPG nacional nos últimos 2 anos tem sido de novidades extremamente interessantes, tanto em relação a qualidade dos livros, como variedade e formas de lançamento. Avaliar apenas pela tiragem, seja hoje, seja nos anos 90, é um erro tosco, já que a tiragem não diz muito se não tivermos vendas né?
O que é melhor? Um livro que teve tiragem de 200 cópias se esgotar em 6 meses, ou um com tiragem de 2000 que fica 4 anos encalhado?
Para além dessa discussão do mercado, o RPG nacional nunca viu uma variedade tão interessante de títulos em português como teremos ao final do período de 2010-2011. Isso com uma brodagem extrema entre as editoras, e uma comunidade independente cada vez mais forte.
Pelo menos aqui na Secular a “Era de Ouro” é agora : )
Lisandro, bacana seu artigo. Joguei RPG entre 89 e 93, so entre turma de amigos da escola mesmo. A impressao que eu tive do jogo e que nunca seria um jogo de massa. Exige atencao, preparo e tempo. E muito diferente de jogar truco na faculdade, ou banco imobiliario. Por outro lado, o RPG criou uma industria inteira: os jogos de RPG para computador, estes sim gerando muito dinheiro e enriquecendo muita gente. Ali, voce nao precisa reunir muita gente, e nem imaginar a estoria. Alem de tudo, voce nao precisa sequer imaginar as cenas. Sem D&D nao teriamos hoje os virtual games que fazem muito sucesso no computador e ate no Iphone.
Acho que na epoca, de 95 em diante, ou mesmo em BBS foram poucos no Brasil que pensaram em fazer jogos online. Tivemos alguns adventures mas ficou por ai. Hoje em dia quem sabe nao se criam mais grifes de games brasileiras?
Salve, Lisandro!
Sim, eu lembro bem dessa época, eu cheguei a mestrar Tagmar pra GSA (o Milenia guardo com carinho até hoje) e o quanto era difícil conseguir narrar em eventos em que só vc é o ÚNICO mestre, coisa que acontecia e muito nos eventos da zona norte do Rio.
A propósito e a GSA, e a Acritó (trollagem do pessoal de SP direto) Daemon era quase top de linha. Houveram boas iniciativas no Brasil, mas, na minha opinião, o rpg vai e será sempre tratado como uma eterna novidade, isso sim.
Várias e várias iniciativas foram feitas, algumas simplesmente idiotas na época (Crepúsculo RPG – que não é o de vampiros). Falkenstein somente com o livro básico e Call of Cthulhu prometido para 97 (lembro bem dessa).
Muito bom o artigo, mas
Saudações Lisandro!
Interessante artigo, não li o original do Telles, logo não posso comparar. Os anos 1990 foram interessantes. Nós lançamos o Desafio dos Bandeirantes, Era do Caos e tivemos a ilusão de que seria possível viver decentemente com RPG. Não no nível de ilusão da Abril, mas exageradamente otimistas. 🙂
Foram bons tempos, cheios de esperanças e pessoas empolgadas. Mas, concordo com você que a Era de Ouro sempre pode ser aquela em que estamos vivendo. Depende de nós.
Forte abraço,
Carlos Klimick
” a Era de Ouro sempre pode ser aquela em que estamos vivendo. Depende de nós.”
That’s the spirit!!! 🙂
“No auge da TSR, o Ed Greenwood continuava trabalhando como bibliotecário. O santo Frank Mentzer trabalhou em padaria e tudo para sobreviver quando seu empreendimento pós TSR faliu. Quem lê o reporte anual da Steve Jackson Games vê como é necessário ter austeridade financeira para fazer o negócio sobreviver. Sempre fomos mercado de nicho.”
Fim da discussão.
O pior é que quando há editores e autores que já tiveram uma vida voltada para o RPG no Brasil ainda tem gente que vem desmerecer e dizer que eles eram lojistas, tradutores, quadrinhistas, que não ganhavam 100% do dinheiro vindo do RPG então não viviam de RPG.
Se alguém ganhou dinheiro com essas bagaças nerd talvez tenha sido o Richard Garfield, uma vez que o RPG está para a cerveja assim como o Magic está para a cachaça – para não falar em outra analogia mais tóxica, rsrsrs.
Lisandro,
Essa tal de Época de Ouro pode se referir – apenas – a uma certa estrutura empresarial que apoiou o RPG em algum momento lá atrás, como vc mencionou.
Lembro bem do começo dessa história, por conta do trabalho com “O Desafio dos Bandeirantes”. Com a entrada da Devir, o surgimento da GSA, da revista Dragão Dourado (lembra?) e, bem mais tarde, da Dragão Brasil e da Daemon, durante um curto período, sim, o RPG teve uma estrutura que podia se chamar de mercado. (tirando as editoras grandes que entraram e saíram correndo…)
Os Encontros Internacionais, os eventos no Museu Histórico, as RPG Rio reuniam muitos jogadores. Autores internacionais com quem tive a oportunidade de conversar se admiravam muito com a cena do RPG no Brasil.
Lembro de ter feito palestras em Bienais do Livro e dado oficinas no SESC em várias ocasiões, além de cursos para professores e bibliotecários da rede pública em SP. E aqui no Rio, o Klimick e o Flavio chegaram a introduzir o RPG em várias escolas conhecidas.
Nessa tal “época de ouro”, tivemos filmes inspirados em RPG no Brasil (No Coração dos Deuses). O Encontro Internacional levou o diretor para fazer palestras, exposições com o figurino e artes do filme. Levamos o produtor musical para fazer um show com sua banda de rock pesado, com o mesmo palco e som do Mettallica e a participação do Andreas Kisser, do Sepultura. E o que aconteceu? Nem mesmo a empresa que organizou e patrocinou deu a devida importância ou percebeu como poderia usar o evento para ampliar seu alcance de mídia.
Tenho de reconhecer que, durante um curto período, (sobre)vivi exclusivamente dos direitos autorais do Bandeirantes, inclusive quando nasceu meu primeiro filho…
Mais tarde, fui contratado pela Devir e aí já tínhamos um punhado de gente no Brasil vivendo só do trabalho com o RPG.
Pessoalmente, eu acho que foi justamente esta “estrutura” que acabou matando o mercado. Algumas alianças empresariais explícitas ou não acabaram asfixiando a entrada de novos players (perdoe o trocadilho…), cristalizando um formato de RPG que, no meu entender, foi um tiro no pé.
A concorrência, nem sempre leal, entre empresas/lojas/editoras acabou matando esse espírito de união que poderia ter feito o mercado se ampliar, experimentar novos formatos, conquistar novos campos de atuação (jogos empresariais, educacionais, outras plataformas…)
Enquanto o pessoal puxava o tapete uns dos outros, a internet e os videogames vieram comendo pelas beiradas.
Quando a galera percebeu, o PS3 já era bem mais RPG (em termos de emoção e “jogabilidade”) do que o D&D3…
De resto, concordo com seu “manifesto”. Quem quer ganhar dinheiro ou fama com o RPG hoje em dia, no Brasil e no mundo, precisa repensar seriamente os seus conceitos…
Realmente essa foi incrível! Obrigado por compartilhar a experiência de vida!
Fui introduzido no RPG vindo pelo Hero Quest e depois os livros jogos, que não são RPGs. Como colecionava gibis dos X-men na época fui inundado pelo tsunami de propaganda que a Abril fez para o AD&D. Então não peguei a fagulha inicial aqui no RS, mas peguei o bonde começando a andar.
Não sei se pode ser chamada de “Era de Ouro” mas tínhamos uma revista que era um elo de ligação com a comunidade e que conseguiu sobreviver muito além do 3º número. Vi durante algum tempo muitas fotos de eventos Brasil a fora com grande público, convidados internacionais que eram super stars para muita gente aqui, vi grandes títulos internacionais chegando aqui com cautela, e também vi lendários e maravilhosos materiais nacionais sendo produzidos como o Tagmar, Millenia e Desafio dos Bandeirantes, entre outros.
Hoje continuamos produzindo materiais criativos, inovadores e grandiosos. E com muito mais profissionalismo do que antigamente. Muitas iniciativas ali dos anos 90 pareciam um “tentar”.
Hoje vivemos numa época diferente com RPGs diferentes (GURPS mudou, Vampiro mudou, D&D mudou e não só no nome, Tormenta e 3D&T surgiram… e mudaram), com financiamentos coletivos, com a internet e seus PDFs. E hoje existe um fenômeno terrível para o RPG, as pessoas cada vez menos tem tempo livre para se reunir periodicamente para jogar, nessa lacuna de manter o mesmo grupo presente numa constância é que os boardgames vem entrando com força, afinal neles você não precisa da presença sempre do mesmo grupo.
Mas quando mencionas que: “Quando a galera percebeu, o PS3 já era bem mais RPG (em termos de emoção e “jogabilidade”) do que o D&D3…”
Realmente acertou na mosca…
Logo que saiu a terceira edição, não sabia se os jogos digitais estavam copiando o RPG ou se o RPG estava tentando copiar os jogos digitais. Foi mais ou menos nessa época que parei de jogar (faculdade, trabalho e vida adulta…), mas lembro claramente de pensar na época: isso é um tiro no pé!
RPG é imaginação. Se tentamos ressaltar o aspecto “jogo”, o público vai procurar “jogos” mais chamativos do que imaginativos e divertidos. Por fim vai preferir os jogos digitais (o que pode ser mais chamativo do que eles?). E na minha humilde opinião, é o que ocorreu.
Em todo caso, obrigado pelas colaborações de vocês! Achei este artigo pesquisando material para o TCC de minha namorada sobre o uso do RPG para fins educacionais.
Nunca vão me deixa esquecer daquele fatídico dia em que virei um cadáver na UERJ… 🙂
… me DEIXAR esquecer, isto é… 😉
O primeiro livro de rpg que comprei foi justamente o Abismo citado acima, escrito pelo Marco Aranha (que hojé é carnavalesco e assina como Marco Aramha, com M). Pode não ter sido uma época de ouro no sentido comercial, mas com certeza foi bem divertido.
Diego, ainda tem o Abismo? Se interessa em vender?
Sou produtora do Rio Play Game ( Antigo Dia D RPG Rio), e sempre procurei referência do querido RPG Rio, e nunca vi uma foto se quer :/ e soube que é bem similar ao Rio Pay Game e ao Dia D, e fico feliz por sinal …
Aos saudosos dias de RPG na UERJ… então …. Dia 31/10/2015 haverá o Rio Play Game na UERJ … Sim o RPG voltou para a UERJ 0/ Para ser com força total só dependemos do publico, estamos fazendo de tudo possível e até imaginário para que o evento aconteça … pois não temos ajuda “ainda” de nenhuma dessas editoras e livrarias do ramo estão apoiando … O evento é feito de rpgista para rpgista 0/ contamos com a ajuda de todos para divulgar, comparecer, narrar para as novas gerações 0/ facebook.com/rioplaygame