Ensaios

Não vou Blogar mais

Todo final de ano é a mesma coisa. Pelos blogs sobreviventes e até pelos mortos vivos, os amigos avisam uns aos outros: “Em dois mil e (insira o ano) irei blogar mais”. O desejo é compreensível. Afinal, de 2001 a 2005, antes das redes sociais e afins, aquele foi um espaço de discussão muito bom. Um post por dia. Uma dúzia de pessoas para ler. Um viral por semana, e só. Uma vida mais calma e tranquila. Curtida mesmo. Quase cidade do interior de poema do Drummond.

Um post vai devagar. Um comentário vai devagar. Devagar... as os leitores olham. Eta vida besta (e boa), meu Deus
Um post vai devagar. Um comentário vai devagar. Devagar…  os leitores olham. Eta vida besta (e boa), meu Deus

Mas o tempo passou e o nosso nível de atenção e concentração não são mais os mesmos. O excesso e a pouca variedade de estímulos nos mantém reféns uns dos outros; como um bordão ruim de programa de humor da década de 60. Aquela expressão aplicável a qualquer situação que te persegue a cada fim de frase.

Tião Macalé
Cacildis… quer dizer, nojento!

Assim, oprimidos pela falta de tempo gerada pela necessidade ou obrigatoriedade de socialização, não conseguimos articular um só pensamento para escrever mais de três parágrafos; não sabemos mais como elogiar ou criticar um comentário; e nem nos lembramos do que é estabelecer uma discussão. É só curtir, compartilhar e retweetar. Apertando os botões da caixa de Skinner. Like a Boss.

É, vou te dizer, eu cansei. Por isso, na contramão do mundo (lugar onde me encontro sempre, à vontade ou não), decidi que, em 2013 e nos seguintes, não irei blogar mais; mas irei escrever mais. Me fiz claro? Claro que não.

Me explico. A minha impressão é que estamos confundindo tudo. Os fins não justificam mais os meios. Os fins se sobrepõem aos inícios. Não é importante escrever, mas, sim, blogar, publicar. Tirar a foto da comida é a parte principal da refeição. Compartilhar o evento e marcar o lugar onde se está são os pontos centrais de qualquer experiência. Até desejar feliz aniversário se tornou um trabalho a mais, que nos impede ou desestimula até de participar das comemorações. Triste mundo esse onde meta-vivemos.

Assim, em 2013, prometo: estarei mais no lugar em que eu estiver fisicamente e menos no caldeirão social do mundo; ouvirei mais às pessoas e não apenas reproduzirei as suas falas; lerei mais livros e citarei menos autores; reclamarei mais com quem me incomoda ao invés de fazer a Diva no twitter. Ou seja, vou viver mais e me fazer notar menos. Curtiu?

E se vocês notarem que a quantidade de posts nesse blog aumentou, tenham certeza, não será mera coincidência. Afinal, não podemos esquecer, viver é pré-requisito para ter assunto.

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