Entrei jovem
escondido
Minha mãe não podia nem sonhar que tinha ido lá
Fui recebido por uma senhora idosa
aparentemente mal intencionada
que me deu um
doce
e passou a
mão
na minha cabeça
disfarçando o ódio que tinha de
mim
Lá voltei
um jovem
adulto
Ia visitar meu pai
adoecido
após sua operação
A mesma senhora estava lá mas
não me recebia mais
com doces
nem
afagos na
cabeça
Melhor
Eu preferia a sinceridade
Na próxima vez que estive lá
precisei arrombar a porta
para poder
entrar
A senhora não estava mais
lá
Nem meu
pai
Ambos mortos
Mas seus sinais
e seus fantasmas
estavam espalhados pela casa
na forma de
boletos
e dos livros que eu amava
e ela
odiava
pois a faziam
se lembrar de
mim
Hoje me sento nessa sala
e penso
em como esse lugar é meu
e não é
Minha filha cresce por essa sala e dou a ela
um destino melhor
do que a senhora dos doces
sequer poderia
imaginar
Sonho em sair dessa sala
da qual sou um prisioneiro
fantasma
desde a primeira vez que nela
entrei
Mas
SIM
consigo me ver velho
recebendo a minha filha
no mesmo lugar que meu pai me
recebia
Sem velhas doces
ou amarguras
Com a certeza que conquistei esse espaço
que sempre foi
meu