Ficção

Dança da chuva

Pediu uma água no balcão da boate e foi recebida com incredulidade:

-Água?
-É, água.
-De que tipo?
-Normal.
-Do filtro ou mineral?
-Se tiver do filtro… é de graça, né?
-É, mas não tem.
-Então, por que ofereceu?
-Sei lá, não estou acostumada a servir água.

Pegou a garrafa da mão relutante da bartender e se encaminhou para a pista. No caminho, foi parada algumas vezes:

-Água?!
-É.
-Tá tudo bem?
-Tá, por que não estaria?
-Não sei, não estou acostumada a te ver bebendo… água.

Tentou dançar, mas, entre uma música ou outra, sempre tinha alguém pra se surpreender:

-Água?
-Porquê? Algum problema?
-Não, não. Deixa quieto, não está mais aqui quem falou.

O ápice foi quando a história da água chegou ao DJ que, num misto de zoeira e indignação, não se furtou a dedicar a ela um remix tribal house de Água Mineral da Timbalada, emendando na versão do Biquini Cavadão pra Chove Chuva do Benjor.

Sob os risos de toda a boate, ela, de saco e bexiga cheias, saiu puta da boate em direção à sua casa. No trajeto, como não podia deixar de ser, choveu, e ela, louca pra mijar, dando mais um motivo a quem a criticava, aproveitou pra se aliviar vestida, no meio da rua.

Quem disse que havia um limite pro quanto alguém pode ficar molhada? Quem disse que a dança da chuva não funcionava?

“Chove chuva, chove sem parar…”

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