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A Branquinha de Paquetá

Não é de se espantar que uma noite fria de quinta feira em Paquetá tenha poucas opções de jantar, mas surpreende que elas, ou, no caso, essa tenha sido tão ruim.

A Barca chegou na estação às 19:30 e, no centrinho da ilha, o que não estava fechando já estava fechado. Com fome, paramos no único lugar que prometia uma sobrevida: o Bibi Lanches, na Pinheiro Freire.

Poucas mesas ao ar livre, dois cachorros de rua brigando por território, e apenas um garçom distraído, que podia muito bem dar conta da clientela pequena que só tomava cerveja e assistia ao Fluminense apanhar do Juventude. Com fome, com frio, e com pressa, pedimos logo as bebidas e a pizza, uma meia quatro queijos, meia calabresa, que esperávamos, fosse forrar o nosso estômago aquela noite. A bebida demorou um pouco a chegar e, enquanto o Juventude virava o jogo sobre o Fluminense, algumas outras almas famintas se achegaram a que parecia ser a única opção de jantar na ilha.

Dava pra notar que o movimento de delivery estava forte, e, por isso, imaginamos que haveria alguma demora no atendimento, porém não esperávamos que fosse tanta. Com 40 minutos no restaurante, uma das mesas que tinha chegado depois da nossa começou a ser atendida. Mas foi de um jeito tão rústico que beirava o desrespeitoso, que nem deu muita inveja. A pizza vinha servida numa embalagem de papelão destinada a entregas; os pratos e talheres, um luxo, pelo jeito, demoravam a aparecer; e o garçom fazia o maior esforço possível para ignorar os pedidos dos clientes que demandavam o mínimo de atenção.

Ansiosos, e famintos, desviando dos cachorros em briga, fomos atrás do garçom que deliberadamente, como os jogadores do Juventude, tentava nos driblar. Quando finalmente o encurralamos na rua para a qual tinha escapado e o questionamos a respeito do atraso e por que a outra mesa tinha sido servida antes da nossa, ele sem a menor cerimônia negou a realidade e disse que a gente tinha se enganado e que eles já estavam lá há muito tempo. Botamos na conta dos clientes serem locais e provavelmente amigos. Se faziam isso com os amigos, imagina com os inimigos.

Sem ter o que fazer, a não ser esperar, começamos a improvisar um bolão na mesa sobre quanto tempo demoraria para a pizza aparecer na mesa. Mais 15, mais 30, mais 45 minutos; mais uma hora; nunca? Tentando invocar a pizza, íamos ao banheiro, por acaso, sujo e mal localizado, na esperança de que, ao voltarmos à mesa, ela estaria servida. Nem preciso dizer que, como a torcida do Fluminense, sempre nos decepcionávamos.

Quando deu uma hora e 15 de espera, novamente fomos ao garçom questionar o atraso e ele informou que a pizza sairia em no máximo 5 minutos. Na esportiva, ainda brincamos que, pela demora, a pizza tinha que vir bem Moreninha, aos moldes do famoso personagem literário de Paquetá que dá nome a metade de seus comércios. O garçom, tentando expulsar os cachorros que corriam entre as mesas do restaurante, riu de uma forma que não nos passou a menor confiança que isso se concretizaria.

Quando já tinha atrasado 5 minutos dos 5 minutos prometidos, para tentar criar uma ilusão de que a pizza seria servida, o garçom trouxe os pratos e os talheres, o que já nos colocou num patamar de atendimento melhor do que o dos vizinhos que tiveram que comer com as mãos. Quando a pizza finalmente chegou, depois de 20 minutos de prorrogação, já imaginam, ela veio tão branca embaixo que suspeitávamos que estivesse crua. Como não tínhamos mais nada a perder, pedimos para que a pizza Branquinha, e não Moreninha, voltasse um pouco ao forno para dar uma dourada na massa, mas ele se negou a levá-la de volta:

-Como a pizza é feita em cima de uma tela(?), não vai adiantar levar de volta. Se não fica branca, ela fica queimada.

Confesso que fiquei na dúvida se queimada não seria melhor. Resignados, resolvemos comer a Branquinha que estava na nossa frente. Uma massa mole e leitosa, quase crua, e sem sal. Pra piorar, a pizza quatro queijos, que no cardápio prometia catupiry, provolone e parmesão, era só muçarela, orégano e um queijo cheddar industrializado e líquido que pingava como uma goteira em qualquer garfada. Quando questionado a respeito do erro na pizza, o garçom deu de ombros e disse que a 4 queijos era assim mesmo.

-Mas não é o que está escrito no cardápio- apontamos.

-Fazer o quê?

-É, fazer o quê?

Comemos a calabresa, que estava insossa e sem graça, e até provamos a de cheddar, quer dizer, a de 4 queijos que só tinha 2 queijos, mas não aguentamos comer nem um pedaço, pela quantidade de sal no queijo industrializado que usaram.

Congelados, ainda com fome, e derrotados, como o Fluminense, resolvemos pagar a conta, mas até isso foi difícil. Depois de 10 minutos pedindo por nossa libertação, tivemos que ir até o balcão para pagar a nossa alforria. Pelo menos não tiveram a audácia de cobrar 10% pelo (não) atendimento. Quem disse que não há pelo menos algo de positivo em todas as experiências ruins? Até pensamos em levar a metade da pizza que restou, e deixá-la num lixo no caminho para o airbnb, mas ficamos com medo de que os cachorros briguentos, ou alguma pessoa fosse se intoxicar com aquilo.

Fica, então, a dica, numa noite de quinta feira em Paquetá, fique em casa. Ou saia, quando finalmente abrirem uma outra opção que não tenha tanto desrespeito com os seus clientes como o Bibi Lanches. Até então não tenham esperança que Mano Menezes vai dar jeito no Fluminense ou que mais essa, dentre as inúmeras críticas ruins do Bibi, vai resolver a incompetência crônica do restaurante que serve a exclusivíssima e inesquecível Branquinha de Paquetá.

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