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De Altos da 3ª Guerra Mundial

Tudo na vida devia ter um limite. Quer dizer, se a vida fosse justa.

Por exemplo, o ser humano não deveria passar por mais que duas ditaduras na vida. O seu Fred, que morava aqui no 703, quase passou por 3.

Eu normalmente o encontrava no fim de tarde no Salvatore para a cerveja de início dos trabalhos. Do alto dos seus 88 anos, ele contava histórias bizarras dos seus mais de 50 anos trabalhando no INSS, ou nas instituições que o precederam, durante os governos do Getúlio e durante a ditadura militar. Quando elegeram o biltre que ocupa o Palácio do Planalto, pegamos no pé dele:

– Aí, seu Fred, terceira ditadura. Pode pedir música no Fantástico.

Não pôde. Morreu dois dias antes da posse.

A gente também não devia ser multado ou extorquido mais de uma vez pela mesma infração no mesmo lugar. Dessa eu escapei.

Nos anos 90 viajei com uns amigos de carro pelo Nordeste e, suprassumo da inconsequência, ninguém tinha carteira. Quer dizer, tinha um cara com carteira, o dono do carro, mas ela estava vencida. Porém ele andava com o exame de vista no bolso com certeza absoluta que isso ia nos livrar de qualquer percalço. Quase funcionou.

Do Rio até Pernambuco não tivemos problemas. Uma noite, rodando em Olinda, fomos parados numa blitz. O policial corretamente ia indicar a apreensão do carro, mas viu pacotes de Lucky Strike no carro e perguntou:

– É cigarro americano?

-É, é- respondemos.

E assim, com duas carteiras de Lucky e mais 10 reais, nos safamos.

No dia seguinte passamos pela mesma blitz e pediram pra gente encostar novamente. Coloquei a cabeça pra fora do carro e, fazendo sinal de positivo, avisei:

– Tá tranquilo. Já paramos ontem.

E seguimos nosso caminho sem nem diminuir a velocidade.

A invasão da Ucrânia me fez pensar que as pessoas também deveriam ter seus limites de quantidade de Guerras, Frias ou Quentes ou mesmo, esperemos que não, Mundiais pelas quais podem passar.

Ninguém merece passar por nenhuma, mas, se formos obrigados, uma já tá de bom tamanho, não?

Então, dito isso, como peguei 15 anos de Guerra Fria com momentos bem marcantes de tensão e expectativa de Guerra Nuclear, aviso pro Putin e demais envolvidos: estou de Altos. Quer dizer, o mundo deveria estar também, mas o que podemos fazer?

O que podemos fazer? Eu te digo. Não eleger machinhos com problemas de afirmação talvez já seja um bom começo.

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