Mais do que os abusos que são cometidos por pessoas sem noção, o que parece mais nos deixar revoltados são os seus pedidos de desculpas. Quer dizer, as tentativas de pedidos de desculpas, pois, sinceramente, não há o menor pingo de verdade em nenhuma delas.
Ao invés do famoso “eu estou/estava/agi errado, me desculpe/perdoe” que denota a passagem de poder do lado agressor para o agredido ao outorgar-lhe a habilidade de absolver seus pecados ou aliviar a sua culpa, o que esse pessoal normalmente diz é: “lamento/sinto muito se eu ofendi alguém/você, não foi a minha intenção/propósito”.
Segundo Análise do discurso 101, eles não acham que estão errados. E isso é o que mais nos enfurece. Eles “estavam” certos, e você, burro, não entendeu as suas intenções ou, pior, floquinho de neve, se ofendeu sem motivo. E, por isso, eles lamentam. Muito. De coração.
Quando vejo esses tipos tentando botar panos quentes nas besteiras que fizeram, enquanto choram que suas vidas acabaram ou que foram cancelados no twitter ou coisa que o valha, só consigo botar a culpa de tudo isso no “Gratidão”.
É, você já deve ter notado ou mesmo aderido ao termo. Nos últimos anos, ao invés de falar obrigado, muita gente começou a usar “Gratidão”. Eu até entendo a lógica por trás disso, mas os efeitos colaterais são nefastos, como vemos na popularização do “sinto muito”, que era um termo que se usava basicamente em inglês.
Tanto “sinto muito” como “gratidão” denotam como o emissor da comunicação se sente. “Obrigado” e “me desculpe” são sobre laços. Se você faz algo legal pra mim e eu respondo “obrigado”, estou estabelecendo um compromisso (estou obrigado ou “a la orden”, em espanhol) a retribuir o favor ou gentileza. Com “Gratidão” eu simplesmente informo como me sinto e te deixo a ver navios. Se vira, malandro.
Mas, pensando bem, num mundo onde todo mundo tem a sua voz e desaprendeu como escutar os outros, não existem termos mais adequados. Sinto muito se o ofendi com esse texto e gratidão por tê-lo lido até o final. 😉