Paquetá é uma encantadora1 ilha localizada no coração2 da Baía de Guanabara, a aproximadamente 15 quilômetros do centro do Rio de Janeiro. Seu acesso é feito por barcas que partem em horários regulares3 da Estação Praça XV, proporcionando aos visitantes uma travessia tranquila e cênica até esse refúgio singular.
Originalmente habitada pelos indígenas Tamoios, a ilha foi ocupada por colonizadores portugueses4 a partir de 1555. Durante os períodos Colonial e do Império, Paquetá foi um importante ponto de veraneio para a elite carioca e figura constante na história do Brasil, abrigando personalidades como D. João VI e José Bonifácio, o Patriarca da Independência, que chegou a residir na ilha5.
Um dos grandes orgulhos de Paquetá é seu papel na literatura brasileira: a ilha é cenário do primeiro romance do romantismo nacional, A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo6. Inspirados pela obra, diversos pontos turísticos homenageiam o livro, como o Mirante da Moreninha, a Pedra da Moreninha e a Praia da Moreninha, além de construções históricas que remontam à época retratada na narrativa7.
A partir do século XX, Paquetá consolidou-se como destino de férias e fins de semana para os cariocas em busca de uma atmosfera serena, quase atemporal. Suas ruas de terra batida8, sua arborização exuberante e seu ritmo tranquilo9 remetem a um passado preservado.
Um dos maiores encantos da ilha é o fato de que, até hoje, não se permitem carros particulares10. Antigamente, o transporte era feito por charretes puxadas por cavalos. Atualmente, com o objetivo de preservar o bem-estar animal, os cavalos foram substituídos por charretes elétricas, triciclos e pequenos veículos sustentáveis, apelidados carinhosamente de “tuc-tucs”11.
Embora mantenha seu espírito nostálgico12, Paquetá tem atraído novos moradores — jovens, artistas e profissionais em busca de qualidade de vida e contato com a natureza, sem abrir mão da proximidade com a capital fluminense. A recente melhoria da balneabilidade de suas praias13, aliada ao florescimento cultural representado por eventos locais e blocos de carnaval como O Boto Marinho e A Pérola da Guanabara, tem despertado crescente interesse na ilha.
Esse novo ciclo, no entanto, levanta debates sobre o futuro de Paquetá. O aumento do turismo e da procura por imóveis pode levar a um processo de gentrificação14 que transforme suas características essenciais. Por isso, visitar Paquetá é também um convite à valorização e à preservação de um lugar onde o tempo parece passar mais devagar e a história caminha ao lado do presente15.
- Característica do que encanta, seduz e, em alguns casos, enfeitiça. Pro bem e pro mal.
- Órgão situado entre o lado central e direito do peito, responsável pelo bombeamento do sangue pelo corpo humano. Relacionado metaforicamente ao amor, quando aplicado como indicação de localização na Baía de Guanabara, o posiciona entre São Gonçalo e a Ilha do Governador, dois lugares pouco conhecidos por essa nobre emoção.
- Mesmo que muitas circulem vazias, as Barcas são ao mesmo tempo excessivas e insuficientes, tornando-as um paradoxo do transporte público do Rio de Janeiro.
- Os invasores portugueses que dizimaram os Tamoios, que haviam se aliado aos franceses, e, para reduzir a sua culpa cristã pelo massacre, colocaram nomes indígenas em tudo o que podiam, o que não aliviou os seus pecados.
- Leia-se prisão domiciliar. Apesar de ser bajulado como um grande liberal e mentor intelectual da Independência, foi um terrível escravocrata.
- Apesar de alegado cenário do romance, o nome de Paquetá não é citado uma vez sequer no livro.
- Antes destino de jovens casais apaixonados que, por superstição, realizavam neles pequenas provas ou rituais, esses pontos turísticos estão basicamente abandonados e não fazem sentido pra ninguém que tenha menos do que 60 anos e assistiu a novela de A Moreninha de 1975.
- As condições das ruas transitam, dependendo do tempo atmosférico, apenas entre dois estados: poeira e lama.
- Nas áreas públicas de Paquetá é impossível saber a hora sem a indicação da chegada ou partida de uma barca, ou sem o uso um relógio de sol. Os horários e os relógios são basicamente ignorados por toda a população.
- Apesar disso, 4 veículos parecem sempre estar em movimento na ilha: a ambulância, o caminhão de lixo, o carro do gás e o carro do conserto da internet. O que mais um ser humano precisa pra viver, não?
- A aparentemente principal atividade econômica da ilha tem o estranho custo fixo de 10 reais por passageiro para atravessar um quarteirão ou todo o perímetro de Paquetá. Pode ser considerado um modelo caótico de negócios que desafia qualquer lei macro ou microeconômica.
- Desde que você considere que o espírito nostálgico não é abalado por festas de karaokê, caixas JBL às alturas nas praias, e bailes de funk e pagode organizados no Iate Clube.
- Apesar dos relatórios do INEA eventualmente favoráveis à balneabilidade, a qualidade da areia, o lodo, o lixo visível, o cheiro do mar, e a própria Baía de Guanabana afastam todos que sejam menos que audazes de suas águas.
- Apesar dos baixos preços de venda e aluguel e de disponibilidade dos imóveis, a tal gentrificação parece longe de se tornar uma realidade a não ser na decoração brega e estereotipada de seus Airbnbs.
- Há controvérsias. Sim, e só. Porquê? Esperava algo mais?