Na primeira segunda-feira da sua aposentadoria, ele acordou no horário de sempre, mas, como não tinha compromisso algum, não soube o que fazer. Ficou uns momentos sentado na ponta da cama, até que ouviu a praia lhe chamando. Foi até a janela e, entre os prédios de Copacabana, conseguiu ver uma nesga de mar.
Estava nublado, ventando um pouquinho, mas não conseguiu resistir. Colocou a sunga e, enquanto procurava uma bermuda, percebeu que não precisava dela. Iria pra praia só de sunga. Ora, bolas, pensou, não preciso mais prestar contas pra ninguém.
Pra não dizer que foi totalmente largado, colocou 20 reais na sunga, botou uma toalha no ombro, calçou os chinelos e partiu.
No elevador, encontrou o vizinho do 802 todo de terno indo pro trabalho.
– Bom dia- cumprimentou com toda a naturalidade que só uma pessoa quase nua pode ter.
– Bom dia, tá indo pra praia?- o vizinho perguntou jocoso.
– Eu tô, e você?
No térreo, cumprimentou o porteiro e ganhou as ruas. Ao seu redor pessoas com suas fantasias de trabalho passavam na direção contrária, lançando olhares de surpresa e inveja. Venceu a multidão, e, no calçadão, frente a uma praia quase vazia, proclamou:
– Tudo meu.
Tirou os chinelos e aproveitou com calma a textura da areia fofa sob os seus pés. Na beira da água se aproximou de uma senhora que, como ele, ignorava o frio para curtir a praia. Jogou o dinheiro e os chinelos, enrolados na toalha, na areia e pediu à mulher:
– Olha pra mim, moça?
Sem olhar para trás, caminhou em direção ao mar. A água gelada tocou seus pés, mas ele não se retraiu. Como a criança que esqueceu que fora, correu em direção à arrebentação, saltando as ondas com as pernas tortas. No rosto, um sorriso enferrujado iluminou o dia nublado. Mergulhou.