Com todas as desculpas a Gay Talese.
Se enganam aqueles que imaginam que são os atores que são dramáticos. Não, dramáticos são os escritores. Os atores são tespianos. Os atores, com base num drama já concebido, interpretam e maximizam as emoções pedidas por ele e as expressam em gestos e palavras, silêncios e omissões. Os escritores, dramáticos como são, imaginam e criam esses dramas. A eles cabe o pior quinhão desse processo: conceber o indizível. E, esse algo que não era para ser dito, eles o dizem.
Por isso, quando acometidos por uma simples gripe, você não vai encontrar escritores tendo posturas positivas, mesmo que torçam, secretamente, pelo melhor. Eles vão concatenar símbolos e sinais, interpretar comportamentos e informações, encaixando-os numa linha do tempo que possa fazer sentido, mesmo que a vida real não o faça. Para piorar, eles sempre serão obrigados a pensar em todas as hipóteses, especialmente nas piores. Afinal, o que é uma boa história sem um conflito?
Por isso, perguntar a escritores doentes “como você está?” é pedir para receber uma série de “mas e se…”
“Estou bem, mas e se…”
“Diagnosticaram X e já estou sendo tratado, mas e se…”
“Acho que já estou 100%, mas e se…”
Tudo para o escritor é um exercício de imaginação. E a sua própria vida é, sim, a sua maior fonte de inspiração. Por isso quando um fato curioso ou disruptivo lhe acontece, como uma simples gripe, não é de espantar que eles o tornem ainda pior, mais assustador; pintando situações aparentemente inócuas com cores trágicas e preocupantes. Se a sua postura lhes incomoda e lhes deprime, imagine o que é viver dentro das suas cabeças? Até mesmo dentro do indizível, que eles tola e ingenuamente dizem, há algumas coisas que eles guardam só para si mesmos. E é aí que reside a sua arte. Em dizer o que ninguém mais diria. Em calar o senso comum.