“Escrevemos uma palavra após a outra até terminarmos” – Neil Gaiman
O pré-requisito, para se seguir a dica aparentemente óbvia de Neil Gaiman, é colocar uma letra depois da outra para se construir as palavras que virarão arte. E se estamos falando de texto, ele precisa estar representado graficamente. Essa representação visual das palavras e das letras que as compõem depende de algo que é ao mesmo essencial e (quase) invisível no texto, seja ele impresso ou digital, e para a qual deveríamos dar mais atenção: a sua tipografia.
Boa ou ruim, fácil ou difícil, simples ou complexa, a tipografia utilizada num texto e as combinações entre elas, quando consideramos os diversos elementos de um livro, são sempre uma escolha. Uma preocupação aparentemente óbvia é buscar a legibilidade, facilitando a identificação dos seus elementos, e a leiturabilidade, buscando o conforto na leitura. Porém a tipografia, mais do que simplesmente facilitar o contato com o significante visual que nos permitirá absorver os significados do texto, pode conceder mais significado ou profundidade a ele. A fonte, como intermediária na relação da leitura, tem o poder de ser o anfitrião, guia e orador do conhecimento e das experiências que o texto deve lhe trazer. Por exemplo…
Que fonte será uma melhor guia na nossa viagem ao País das Maravilhas?
Que fonte será uma melhor professora para nos ensinar sobre as regras do baseball?
Que fonte (ou conjunto delas) nos permitirá entrar na mente de uma adolescente e experienciar seus conflitos e dúvidas?
Que fonte nos levará ao futuro sem deixar de nos remeter ao som (e à música) que a violência podem suscitar?
As escolhas das fontes sempre parecem óbvias, depois de feitas, mas saber por que as escolhemos é um elemento importantíssimo para permitir que decidamos qual será o guia mais adequado para os nossos leitores. A tipografia, mais do que funcionalidade, tem, muitas vezes ocultas, mas óbvias ideologias. Não é óbvio?