[oei#36] A responsabilidade social das editoras na sua participação no Programa Nacional do Livro e do Material Didático

Qual foi o seu primeiro livro? Ou, melhor, qual foi o primeiro livro que te marcou? Qual foi a obra com a qual teve o seu primeiro contato mágico e sedutor com as letras? Qual foi a história, encerrada naquele misterioso e poderoso retângulo de papel, que, lida por você ou por outro, iniciou seu relacionamento com a leitura? Seja qual for a sua resposta sobre essa experiência iniciática, é bem provável que ela, como para boa parte dos brasileiros, tenha acontecido na ou por meio da escola.

No Brasil, o sistema educacional ainda tem um papel preponderante na formação de novos leitores e na difusão do hábito da leitura. Por isso é um erro olhar para o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) apenas como uma oportunidade de negócios.

Apesar de o Governo Brasileiro ser responsável por 60% das compras de obras didáticas, e por mais de um terço do faturamento anual do mercado do livro, as editoras não podem nem devem encarar a sua participação no PNLD com um viés simplesmente mercadológico. O PNLD, dentre outras políticas educacionais, é uma das mais importantes ações educacionais voltadas à construção da nossa ideia de nação e à formação dos nossos futuros leitores.

O livro, seja ele didático ou de literatura, quando levado pela escola ao aluno, tem mais do que um propósito informacional. Sua função não é apenas a incorporação de fatos e dados na memória de alunos passando por um processo de educação para a cidadania. O livro, e a sua leitura procuram estimular a formação de indivíduos autônomos, críticos, e, por que não?, sensíveis para o desenvolvimento de uma sociedade cada vez mais humana e empática. Assim é importantíssimo que o PNLD, além da avaliação e verificação de critérios objetivos de qualidade didática e pedagógica, promova conteúdos que estejam alinhados a um projeto de uma nação cada vez mais diversa, plural e democrática.

A oportunidade de fechar grandes contratos dentro do maior programa governamental de aquisição de livros do mundo, por mais interessante que seja financeiramente, não deve ser a principal motivação para a participação das editoras no PNLD. O que deve mover as casas editoriais é a missão de formar um país de leitores, não só de livros, mas da realidade, que estejam prontos a interpretar o nosso cenário social, e, após essa leitura, conseguir agir sobre nossas relações e instituições para escrever coletivamente o nosso futuro.

Se o propósito da sua editora está de acordo com as premissas de promover a educação no país, através de conteúdos de qualidade que estimulem o desenvolvimento dos nossos cidadãos, a sua participação no programa, além de natural, será provavelmente bem-sucedida. E o processo de escrutínio propositada e justificadamente severo, pelo qual suas obras passarão, servirá para coroar seu objetivo e seus esforços não só com uma ferramenta de sustentabilidade econômica do seu negócio, mas, especialmente, com a orgulhosa certeza de que você assumiu a responsabilidade que todas as editoras deveriam ter com um Brasil leitor.

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