Graças à Alícia, estou assistindo em ordem e religiosamente aos Harry Potter. Lembro de ter lido o primeiro livro em 2001 e achado legal, mas nada de espetacular. Na época, inclusive, a minha impressão foi que até Os Olhos do Dragão do Stephen King, uma fantasia Young Adult bem rasteira, tinha me parecido mais imaginativo. Porém, passada toda a loucura midiática e com a perspectiva da série inteira, consigo ver alguns pontos positivos bem interessantes na obra da J.K. Rowling.
Vamos a eles: os temas e os personagens envelhecem com o público; se impõe uma pausa de consumo da mídia, seja cinema ou livro, de pelo menos um ano entre idades, o que não sobrecarrega o público; há uma clara diferença de profundidade nos temas abordados de acordo com a idade dos personagens e do público ao qual ele se destina; e os personagens não simplesmente mudam e evoluem, como toda obra aumenta a sua complexidade paulatinamente. Tudo isso denota um grande esmero, esforço no planejamento e cuidado na execução. E, além disso, consegue escapar do risco de parecer uma obra corporativa sem coração, feita mecanicamente para maximizar vendas de bonequinhos e brinquedos, como Star Wars se tornou.
Mas isso não muda a minha impressão original: Harry Potter continua não sendo super imaginativo. No filme, parece que a tecnologia bruxesca mais ubíqua é a aplicação de GIF animado em tudo. Porém, não dá pra negar que é cativante e simpático.
Lembro do que a gente tinha de fantasia/fc na minha infância e, cá entre nós, Harry Potter parece uma opção bem melhor. Comparando com os filmes B de Espada e Feitiçaria, os clones de Star Wars, as revistas em quadrinhos do Conan e raras edições de obras excessivamente preocupadas com detalhes e autocentradas nas obsessões dos autores, como Elric, O Senhor do Anéis, Gor, Duna e A Fundação, Harry Potter é uma série respeitosa e comprometida com o crescimento e entretenimento do seu público. Mas, confesso, prefiro obras mais estranhas e difíceis de consumir. Deve ser o costume.