Confesso que a nossa situação não é das melhores. Possivelmente seria a pior do mundo, não fosse a existência da Síria e da Venezuela; e por isso Michel Temer deveria agradecer aos seus futuros companheiros de inferno: Nicolás Maduro e Bashar al-Assad. Mas, apesar da corrupção, da crise econômica e da falta de humanidade no nosso país, existe algo no povo brasileiro que nos permite perseverar: o deboche.
Enquanto as instituições metidas a sérias continuam achacando a população, nós tiramos sarro deles. Isso atualmente não nos leva a lugar algum, é verdade, mas retira algo muito caro aos poderosos: o respeito. Eles poderão roubar nosso dinheiro, nossos bens, nossos salários, nossa segurança, nossa saúde, nossas aposentadorias, mas o nosso respeito, nunca terão.
Afinal, respeito não é algo que se pode demandar do outro. Ou você é respeitado ou não é. É um sentimento que depende de rara admiração. E o simples pedido por respeito já é sinal de que você nunca o terá. Então, quando nosso pretenso presidente diz “Se quiserem que eu saia terão que me matar”, ele mesmo não sabe, mas já caiu. Ah, mas ele permanece no poder, você diz. Que poder? Ele é apenas a ressaca de uma gripe que em breve passará. E como os deuses do deboche são poderosos e vingativos no Brasil, ainda veremos Marcela Temer casar com Jonathan Costa , posar nua ou participar de reality show para sobreviver. Antígona perde.
Os Lannisters são sábios
Assim, de meme em meme, de gif em gif, de paródia em paródia, aguardamos pela queda de mais um idiota ganancioso que gastou nossas divisas em quadros do Romero Brito por não ter sensibilidade ou imaginação. Tudo por termos a fervorosa certeza que eventualmente os deuses do deboche irão nos vingar
Brasil, país da piada pronta
O engraçado é que o problema de crescentes corrupção e ignorância não rola só por aqui. Trump, Alt-Right, Orgulho Hétero, Brexit, Putin, Kim Jong-Un são alguns exemplos de como a ganância e o ego empoderam causas e idiotas metidos a sérios colocando toda a humanidade em risco. O pior é que, apesar de identificar o problema, o resto do mundo não parece ter a nossa habilidade para lidar com isso adequadamente. Pra mim, está claro que o que o mundo mais precisa no momento é de mais deboche.
Por isso não me espanta ver o deboche nacional sendo exportado através dos constrangedutos profetizados pelo Ricardo Coimbra. Exemplos? Carreta Furacão servindo de acompanhamento para qualquer música; Nazaré confusa com o debate presidencial americano; Perez Hilton vendendo camisas da Cuca; Katy Perry percebendo a efemeridade da sua fama e da sua juventude representada pela Gretchen no seu novo vídeo clipe.
Gretchen participando do momento de autocrítica do pop internacional
Todo esse deboche, aparentemente inócuo, na verdade pode ser uma arma muito poderosa contra a falta de noção. Sério. Se pudermos debochar dos poderosos e uns dos outros com firmeza e sinceridade eventualmente atingiremos o objetivo final do escracho: o momento mágico em que o deboche se transforma em autocrítica. E, cá entre nós, o que o nosso mundo polarizado e idiotizado mais precisa é disso.
Por isso, vamos meter bronca no deboche. Fan fiction com políticos desonestos, paródias com celebridades imbecis, gifs contra causas preconceituosas e racistas, e sites de fake news sobre os hábitos secretos de empresários corruptos; sem esquecer de zoar nós mesmos, os néscios que empoderaram esses beócios. Vamos nos unir, afiar nossas línguas e gerar uma tsunami de deboche que enfim lavará as nossas terras com a balsâmica autocrítica. E rezar para que essa onda maneira venha antes de 2018, senão corre o risco de um certo imbecil transformar o deboche em crime. Você sabe de quem estou falando, né? Do cara que faz flexão com a cabeça.
Taí alguém que tá precisando de muuuuuita autocrítica