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Amanhecer na terra de Casimiro

Acordar com o sol nascendo pois, no quarto onde te colocaram, as janelas não têm cortinas. Sair do quarto com cuidado para não acordar as meninas. Passar na ponta dos pés pela sala, e se questionar, pela milionésima vez, como alguém consegue construir uma seleção de CDs como a exposta no rack.

Abrir a porta da geladeira, encher um copo de água, e notar que conseguiram, conseguimos(?), acabar com toda a cerveja de ontem. Ir pro quintal e usar o banheiro de fora, pois o da casa não tem a pressão de água necessária para suas necessidades matinais.

Ligar o computador da garagem e colocar, baixinho, numa web rádio local. Ler um resto de jornal velho que alguém abandonou numa cadeira de praia, enquanto fuma o primeiro cigarro do dia. Apagar o cigarro, terminar de ler as notícias vencidas e fechar os olhos curtindo a eclética seleção musical. Sentir-se em paz. Sentir-se vivo. Sentir-se com fome.

Voltar pro quarto pra pegar carteira, celular e chaves e sair de casa em busca de alimento.

Caminhar pelo praião vazio sob uma garoa invisível, ou será a maresia?, contando os quiosques abandonados e as casas orfãs de turistas. Entrar na rua de esquina da padaria e caminhar até a rodovia. Se assustar com os caminhões que passam como foguetes a caminho de lugar nenhum levando cargas fantasmas.

Entrar na padaria na esperança de encontrar algo diferente e se deparar com o mesmo de sempre. Pão; mortadela; aquele queijo minas, que se finge canastra; e o pão de queijo ruim que alimenta o coração. Complementar a culpa gulosa na forma de refrigerantes e isotônicos para curar as ressacas dos anfitriões e convidados.

Voltar, cheio de preguiça, pela beira da estrada, vendo se esbarra com um lugar onde comprar um jornal para fingir que se importa com o que está acontecendo no mundo. Achar apenas o Valor Econômico e comprar assim mesmo. Pelo menos ele é grosso e vai matar seu tempo até a hora do churrasco.

Chegar perto da casa e ouvir os cachorros soltos, anunciando que a casa já acordou e os libertou do canil. Abrir o portão com cautela, pros cachorros não fugirem, e encontrar todos na mesa esperando pelo café que, sabiam, você iria trazer.

Beijos e abraços de bom dia. Alguém aumenta o volume da rádio e uma música que faz parte da história de todos toca. Vocês a ouvem em silêncio, enquanto enchem a boca de refrigerante, pão, mortadela e amor. O pão de queijo continua ruim, a casa continua hospitaleira.

Amanheceu.

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