Pode ser até a culpa das últimas leituras que tenho feito (sim,Byung-Chul Han, estou falando de você), mas estou surpreso como está aparecendo na minha frente um bando de tentativas de transformarem tudo em a-ti-vi-da-de, em u-ti-li-da-de. A última foi essa:
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Além de ser uma clara tentativa de se aproveitar do assunto do momento para vender óleo de cobra, tem algo muito ruim na premissa desse produto. Ele considera que há uma maneira mais efetiva de cumprir os objetivos da literatura, que, pelo discurso do produto, é produzir mais e vender mais livros.
A arte deixaria, então, de ser uma ferramenta de expressão única e individual para gerar conexões entre as pessoas para ser uma categoria de produtos que servem apenas ao consumo e podem ser realizados por máquinas com breves colaborações dos operadores humanos. Já imagino que futuramente a próxima publicação desse Eldes seja: Como ajudar o Chat GPT a construir livros a serem vendidos pela Amazon. Afinal, não podemos impedir o progresso de transformar o mundo num pesadelo permanente, certo?
Depois de me recuperar parcialmente do choque e da tristeza que o post me causou, só me lembrei do Orgasmatron, a máquina do filme O Dorminhoco de Woody Allen, que, num mundo futuro de frígidas e impotentes, é responsável por gerar prazer sexual terceirizado. Vejam só como é triste (e engraçado ao mesmo tempo).
O espanto que o filme provoca pela terceirização mecânica do prazer do sexo deveria ser o mesmo quando vemos tentativas de terceirizar o prazer da concepção e da criação da arte. A pergunta que essa sátira, e esse post suscitam é: as coisas só existem para serem úteis, efetivas? A arte só tem serventia como criadora de produtos e vendas? O prazer gerado pela criação e pela conexão nada importa em comparação aos seus objetivos mercadológicos?
Segundo o tal Eldes e os criadores do Orgasmatron, nada é prazer, só há metas. Pode até ser que eles, no atual contexto torto do mundo, estejam certos, mas, sorry, esse não é um mundo onde me dá muita vontade de viver.