Todo Natal, até os meus 7 anos, a gente ia passar as festas na casa do meu avô em Campina Grande. No início dos anos oitenta era impossível não esbarrar com a onipresença de um dos filhos da terra mais queridos: Genival Lacerda. Das crianças aos adultos, todos conheciam e cantavam suas músicas com diferentes níveis de entendimento e maldade.
O vizinho de frente do meu avô, seu Cisso, que inclusive era sósia irmão do Genival, comandava a festa de final de ano da rua e o imitava seu clone quando não estava colocando Gretchen, sua obsessão, para tocar. Lembro que a casa dele foi o primeiro lugar onde vi um Globo Espelhado, bem no meio da sala iluminando diversos posters da rainha do bumbum que tinha nas paredes. Era um projeto de velho safado, como o personagem que o Genival representava.
Agora lembrando consigo fazer um paralelo entre os personagens das músicas do Genival e o pessoal da rua do meu avô. Desde a esquina da Birosca, até o depósito de gás, os personagens de Genival estavam todos, em maior ou menor grau, alí. A Severina Xique-Xique, o Pedro Caroço, o Velho Safado e até o Jegue Mordedor. Genival conseguia ser universal cantando a sua vila.
Genival morreu hoje e foi uma dessas figuras que representavam de forma histriônica seu lugar e seu povo, como o Bezerra e o Dicró foram, e o Zeca ainda faz um pouco mais esse papel pro Rio. Não temos muito mais disso. Talvez pois não tenhamos mais esse senso de comunidade. E quando morrem as comunidades morrem as lendas que nos tornam irmãos. O que fazer? Mate o véio…