Disclaimer: Antes que você venha me xingar, não entendo nada de futebol. O texto abaixo é sobre comportamento e usa futebol apenas como gancho. OK?
Passada a tragédia, ou, melhor definido, como li por aí,a tragicomédia anunciada, está na hora de levantar os aprendizados que tivemos com a Copa. Péra aí! Aprendizados? É, aprendizados. Ou será que vamos passar por isso sem aprender nada?
Sim, eu sei, essa não é a nossa maneira de agir. Seja no futebol, na política, nos relacionamentos ou mesmo no trabalho, o brasileiro não é um ser racional. Somos quentes, latinos, re-la-ci-o-nais. Ser racional no Brasil é até palavrão. Sinônimo de frio, distante, chato. Quem já viu pensar? Coisa mais brega, Jesus! Eu quero é fazer!
O que o Brasil gosta é de aplauso, de farra, de prêmio. Criar esquemas mirabolantes que reneguem tudo o que passamos e rezar pra funcionar. É a postura do político, chefe ou namorado que derrubam tudo o que foi feito no passado pra construir de novo (tão mal feito como antes) só pra poder inaugurar com uma placa com o seu nome. Não somos afeitos a críticas, comentários, sugestões. Não sabemos o que fazer com elas. Não sabemos lidar com a informação. Conferimos a elas um poder místico de agourar o nosso futuro. Tudo pode estar indo mal mas quem procura esclarecer, discutir, planejar, reformular é um traidor com olhar de seca pimenteira. Odiamos informação, queremos afirmação.
Queremos elogios, exaltação prévia de quem pode vir a fazer algo, mas ainda não fez. Precisamos de heróis pois não temos cultura. O esforço individual é essencial, pois não estamos nos ombros do proverbial gigante. Por isso precisamos a todo momento pular mais alto. Sozinhos. Para o bem ou para o mal.
Às vezes, isso funciona e é lindo, mas nem sempre, ou quase nunca, isso dá certo. E quando a fé não foi suficiente e a tragédia se instaura, esses mesmos que tentaram ajudar com suas análises são executados em praça pública como Cassandras culpadas apenas por ter o dom da profecia. Profecia? Profecia que nada. São apenas pessoas que abraçaram a racionalidade ao invés da exaltação e da fé insana no que sabemos que não irá acontecer. Somos meninos apontando o dedo e avisando que o rei está nú. Somos incômodos. Somos os não patriotas, os não corporativistas, os não apoiadores. Somos simplesmente racionais. E isso, no Brasil, é crime.
É, esse é o Brasil. Não aprendemos e lidamos com as tragédias sempre do mesmo jeito: culpamos alguém ou algo, botamos tudo o que construímos abaixo e fazemos tudo de novo esperando que dessa vez vá funcionar. Na tradicional definição de Einstein: somos loucos.
Mas não precisamos ser. Podemos começar pequeno, no nosso dia-a-dia, injetando um pouco de racionalidade e aprendizado na nossa rotina. Olhar pro que aconteceu de forma crítica, considerar onde erramos sem crucificar ninguém, rever nossos objetivos e replanejar. Podemos fazer isso em tudo. Nas nossas relações, nos nossos trabalhos, na política e, quem sabe um dia, até no no Futebol. Podemos dar saltos incrementais, aproveitando as experiências do passado e evitar esse círculo vicioso de exaltação precoce dos heróis, evitação dos sinais de desastre, bazófia de machinho, tragédia vergonhosa e malhação dos inocentes.
Enfim, não precisamos ser todos Felipões. Não mais. Será que apenas isso podemos aprender?