Ensaios

Chasing Philip Morris

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Cigarros e isqueiros. O início de um bom relacionamento.

Essa semana estava assistindo novamente a Procura-se Amy e me espantei com a quantidade de cigarros fumados. Sim, os heróis, as mocinhas e, se pudermos chamá-los assim, os vilões, todos eram fumantes. Fumavam ao acordar,após as refeições, durante as refeições, depois do sexo, antes do sexo, em todas as situações. Ser fumante, em 1997, não era nada demais. Eu também era fumante em 1997. E, pelo que eu me lembre, não era nada demais. Era até bom.

A marca de cigarro que você fumava inclusive dizia muito sobre você e sobre com quem você devia andar. Era uma espécie de teste de personalidade público. Na minha faculdade tínhamos as meninas Malboro e a confraria do Free. Os hippies do Hollywood eram amigáveis mas não circulavam na nossa roda. Enquanto a minha trupe, o povo do LM, não queria ou fingia não querer ser notado, e, por isso, transitava por todos os grupos. E os que não fumavam? Não me lembro de vê-los interagindo. Se você não fumava basicamente era considerado antisocial.

Quando conheci a minha esposa, ela costumava me mandar mensagens via teletrim pedindo que comprasse cigarros pra ela. Ela fumava Malboro. Lights. Eu, LM. Um romance proibido. Ela, hoje, não fuma mais. Eu ainda fumo. Mais ou menos. E me sinto culpado por isso.

Não que eu fume como as pessoas de Procura-se Amy. Fumo uma vez por semana, dependendo da quantidade de cerveja que tomei. Fumo socialmente. Se é que isso existe. Fumo pra me afastar das pessoas e olhar pro mundo esperando retribuição. É um momento de meditação. Fumo pra respirar. Pois estar com um cigarro na boca é quase uma maneira de saber que meu pulmão ainda funciona. Inspira (fumaça), expira (fumaça). Ufa, estou vivo! Mas até quando? Vai mais um trago aí?

Os riscos de saúde são preocupações menores quando você precisa saber que está respirando. Fumar é, era, pra mim, quase como um saco de papel socialmente aceito quando você precisa hiperventilar.

Mas agora acabou. É, de vez. Depois do meu exame periódico, quando precisei relatar todas as doenças da família, o que se torna exaustivo quando se tem mais de 20 tios, do nascimento da minha filha e do infarto da minha mãe, fumante há mais de 50 anos, finalmente caiu a ficha que preciso parar. É isso. Sem último cigarro. Sem festa de despedida da Nicotina.

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O quê? Nunca mais fumar? Onde já se viu isso?

Agora tudo o que me restará será o cinema. Filmes onde ainda poderemos ser fumantes passivos sem os riscos e os malefícios do cigarro. Filmes que, espero, meus netos um dia verão comigo e dirão: “O pessoal no passado era tão ansioso que precisava se automedicar o tempo todo, vovô?” Eu , humilde e sinceramente, responderei: “Infelizmente, sim, netinhos.. infelizmente, sim.”

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