Ensaios

Acumular? Desculpe, não estou interessado

A gente tem uma mania esquisita de ver as coisas como processos acumulativos. Eu ia escrever evolutivos, mas não era exatamente o que eu estava pensando. No processo evolutivo as coisas mudam e, eventualmente, o passado é abandonado em prol da nova estrutura. No acumulativo, há uma sensação de mudança mas estamos apenas construíndo por cima algo que aparentemente substitui o anterior, mas em nada modifica o seu conceito original. É uma versão pretensamente aprimorada da anterior, mas nunca nos deixa esquecer de onde o conceito original veio. Temos carros mas continuamos nos referindo à sua potência em cavalos de força. Temos os e-books e ficamos eternamente os comparando aos de papel. É uma espécie de nostalgia obrigatória que nos impede de realmente dar saltos revolucionários.

Por isso, a impressão que muitas vezes passa é que tudo que é inventado veio para ficar, já que, mesmo que algo mude, o anterior ainda existirá eternamente como um fantasma assombrando as novas idéias. O sujeito criou um desentortador de banana e, pronto!, jogou uma maldição na humanidade: nunca mais vamos conseguir comer bananas que não sejam retas.

O que me pergunto é se as coisas realmente precisam ser assim ou se esse é apenas um mindset que pode ser mudado. Será que estamos condenados a eternamente pagar tributos mnemônicos ao passado e carregar esses trambolhos cognitivos em nossos cérebros e culturas? Será que não conseguimos mudar de idéia?

Eu gostaria de pensar que sim. Um dos meus exercícios preferidos é imaginar um mundo sem internet. Como? Sem Internet? Mas hoje em dia a Internet está inexoravelmente ligada aos modelos de bláblá, bláblá, bláblá, blá. Sei, sei, sei. Mas você imagina um desastre? Um zombieapocalipse? Uma tragédia que acabe com nossos meios de comunicação? Não, não, não. Imagino um futuro onde perdemos o interesse e simplesmente mudamos de idéia. Difícil isso, não?

As possibilidades são infinitas. Voltaríamos ao Jornal Impresso? Seria esse um futuro onde apenas a oralidade contaria? Teríamos uma outra maneira de agir e nos comunicar? Telepatia, por exemplo? Perceberíamos o tempo que perdemos com o excesso de informação e transformaríamos nosso mundo num grande Walden? Ou a Internet estaria apenas invisível de uma maneira que pareceria inexistente e não nos cobraria mais essa atenção exagerada que parecemos ser obrigados a devotar a ela? O que pode ser, tenha certeza, é muito mais interessante do que essa realidade que acreditamos que é.

As opções são muitas e para que um futuro desses aconteça só precisa começar com você. Não se importe mais tanto com a pressa que as atualizações constantes lhe impõem. Perceba que não há mérito ou nada que valha o seu tempo nos comentários dos sites. Evite ler o que não lhe interessa pois não tem nada pra fazer. Saiba que a sua opinião naquele assunto específico não é realmente TÃO importante. Aprenda que o tédio é o primeiro passo para criar coisas novas e legais e que se distrair é se trair duas vezes (dis-trair, sacou?).

Vamos parar com essa mania de acumular e bater continência ao passado como se ele fosse algo precioso e que deve ser preservado. Cá entre nós, tá até no nome, se é passado, já passou. Para nos libertar só precisamos mudar de idéia e utilizar a mais poderosa das armas: a falta de interesse. O nada fazer pode fazer milagres. Sabia? Por falar nisso, o que diabos você está fazendo aqui enquanto poderia não estar fazendo nada, hein? Não precisa responder, na real, não estou nem um pouco interessado.

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