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Brasil, um novelista de segunda

Aqui, ó, Brasil, sei que você tem trabalhado com a gente desde a época do rádio, nos ajudou a construir um dos grandes símbolos da cultura nacional, mas, convenhamos, tá brabo. Teu trabalho caiu de qualidade rápido demais. Por exempo, esse teu último arco tá chato, repetitivo, arrastado, sem conclusão. Vê só, num tem nem um personagem pra gente torcer.

Tá, foi uma boa manobra pegar aquele personagem periférico maluco que vivia falando idiotices no programa da modelo que engravidou da maior estrela de Rock do mundo e transforma-lo num vilão. Mas isso não é novidade. No Poderoso Chefão, Sonny morre entregue pelo cunhado abusador; no Pagamento Final, Carlito Brigante é assassinado pelo bandidinho que ele humilhou na boate. Entendi, mas é um bruta clichê. O cara mais insignificante é o que cria mais problemas. Mas, pô, se liga, isso é a história de um país e não de uma gangue.

Concordo, os filmes do Padilha deram uma moral pros milicianos. História de gangue voltou à moda, mas quantos anos já tem desde o Tropa de Elite 2? Além do mais, pra onde você está indo? A história perdeu o rumo, o pessoal tá desistindo de acompanhar essa novela. Quem pode trocou de país e de canal, quem não pode tá desligando a TV e nem jornal lê mais. Tem gente pedindo pelo amor de Deus que você dê uma de Janete Clair e mate metade dos personagens num terremoto.

Não, você não está fazendo isso. Você tá matando o público e não os personagens. Essa epidemia tá muito mal inserida na história. É pra matar do elenco que aparece na TV. Deixa o povo em paz, diabo!

Sei lá, Brasil, acho que é melhor a gente encerrar o seu contrato e… o que? Nem vem me prometer uma nova virada na história. Já teve de tudo nesses últimos meses; além da peste, teve ameaça de golpe, nuvem de gafanhotos, água envenenada… Tá parecendo novela bíblica. E o pior é que nada acontece. Plot twist é pra mover a história não pra fazer a gente ficar rodando que nem pião.

Tá, vou ouvir… hum, interessante. Sim, tá, é irônico, mas previsível: o sujeito que não acreditava na peste, e mais promoveu a infecção, fica doente. Tá bom, pode continuar. Mas, Brasil, vê se dá um fim nessa novela logo, OK? E dessa vez eu quero um final feliz. De verdade. E nada de ficar reciclando essas ideias de um novo Brasil pra forçar continuação tipo filme de terror. Ninguém acredita mais nisso.

Ah, e olha só: se eu curtir esse final, escreve aí, pelos próximos 50 anos a gente só vai ficar fazendo aquelas séries curtinhas de antologia baseadas nas obras do Stanislaw Ponte Preta, Rubem Braga, Hugo Carvana… um troço bem meu Brasil brasileiro, cheio de samba de raiz, malandragem, cerveja, romance, belas paisagens e diversão.

Depois dessa tua última obra, tamos mesmo precisando de um refresco. Ô, se tamos. Ô, se tamos.

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