O Editor Invisível

[oei#09] Os (des)enobrecimentos gráficos que tornam o livro (m)eu

Na minha infância, quando pintava uma grana extra em casa, comprávamos livros. Enciclopédias, coleções, livros grandes em capa dura com letras douradas e fitilhos. A coisa era tão séria que, mesmo não sendo religiosos, tínhamos uma enorme bíblia, de capa dura imitando couro, com douração trilateral, sobre um suporte de leitura no meio da sala. Minha mãe, ateia convicta, se explicava: – É pelas ilustrações do Doré. E fazia suas críticas: – Se bem que…

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O Editor Invisível

[oei#08] A viralidade gráfica dos livros e sentimentos reproduzíveis

Dezembro de 1990. Surge, no dia da entrega das provas finais do curso de inglês, a assustadora e sedutora possibilidade de compartilhar com o alvo de meu afeto as odes de amor que lhe dediquei. Mas como fazer isso? Como compartilhar as páginas soltas e caóticas de prosa poética, que, movido pela paixão, escrevi sobre ela? Sim, esse era o problema: eu escrevi sobre ela e não para ela. Nunca me passou pela cabeça que…

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O Editor Invisível

[oei#07] A revolução permanente de impermanência da leitura

É estranho como esquecemos o quão inatural é ler. Olhar para símbolos num papel, ou em qualquer outra superfície, entender que existem, entre eles, relações e ordem, e, daí, extrair deles um significado não é de maneira nenhuma algo natural. É algo ensinável, facilitado por características fisiológicas, mas não é inato. Mesmo assim, depois de aprendido, é algo que consideramos dado e sem questionamento. O mesmo acontece com os receptáculos dessa escrita. Os livros são…

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O Editor Invisível

[oei#06] Na casa de espelhos das capas distorcidas

Even the greatest stars Discover themselves in the looking glass Hall of Mirrors – Kraftwerk Você vai à Livraria sem saber o que procura. Você vai à Livraria como quem precisa se encontrar. Na vitrine, um funcionário, bem intencionado, mas esperto demais para o seu próprio bem, montou uma seleção de livros amarelos. Sim, apenas livros com capas amarelas, totalmente amarelas. Naquele deserto de nada, você tenta identificar quais são os títulos que queriam destacar,…

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O Editor Invisível

[oei#05] A efemeridade da perfeição do formato do(s) livro(s)

Dê um passo para trás. Vá à sua estante. Pegue um livro ao acaso. Abra as suas páginas. Leia uma, duas, em ordem. Leia uma outra, ao acaso. Folheie. Passe pelas páginas, apenas correndo seus olhos. Abstraia do conteúdo. Perceba apenas as posições: do texto, das notas, das margens, das imagens. Entenda que, mesmo que não haja harmonia, você consegue perceber na estrutura do livro uma expectativa, ou, para alguns, uma presunção, de perfeição. O…

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[oei#04] A esquizofrenia narrativa das identidades editoriais

Mal cheguei na biblioteca, a primeira coisa que me disseram foi: — RIP Companhia das Letras. Nunca mais compro nada dessa editora. Como estou exercendo o salutar hábito de ler menos notícias, não sabia do que estavam falando. Me explicaram: — O Delfim Netto morreu hoje e, além de anunciarem que vão publicar a biografia dele, ainda fizeram “homenagem”, lamentando a sua morte. Valha-me, Deus, gente! Nos dias de hoje, passar pano pra cupincha da…

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