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Destinos

Depois de um tempo de viagem, todos os lugares parecem iguais. Todos tem um aeroporto, uma rodoviária, um posto de gasolina na beira de uma estrada, uma estação de trem. Um ponto de entrada e saída que causa a pior impressão possível do lugar, e, por isso, talvez, a mais verdadeira.

Depois tem o transporte. Em geral, táxis. Transporte coletivo é reservado para aqueles lugares que já conhecemos bem. E, portanto, não são mais lugares iguais. São apenas lugares similares de maneiras reincidentes.

Se os pontos de entrada resumem os lugares, os taxistas representam seu povo. Como exploradores, nos aproximamos desses nativos sob rodas com a boa vontade de missionários mal intencionados e com o medo dos soldados furiosos. Olá, como vai, tudo bem, por favor, não me roube, nem me engane; eu vim em paz. O que nem sempre é verdade, mas é melhor não levantar o assunto.

No caminho para os hotéis, um outro ponto de destaque dos lugares, ouvimos as lamúrias dos motoristas, que representam as aspirações e conflitos desse povo. Os preços altos, os políticos ladrões, as informações sobre pontos turísticos e inferninhos, a esperança que tudo vai melhorar ou acabar numa imensa bola de fogo, o que meio que dá no mesmo; ouvimos tudo que nos interessa e que não nos interessa; mas que nos dá a certeza que alí você nunca vai querer morar. Ou em qualquer outro lugar.

Enfim, o hotel. Como um carro alegórico, o hotel representa a imagem que o lugar quer nos passar. É a fantasia do povo do que significa viver bem. Cafés da manhã nababescos e frigobares deprimentes; espaços para reuniões de negócios ou encontros sexuais secretos, ambos igualmente escusos; piscinas e academias que não servem para se exercitar; camas convidativas e péssimas seleções de canais na TV a cabo.

O atendimento do hotel nos permite outra percepção sobre o povo, especialmente como eles são falsos em seus discursos e ações. Por trás de cada mesura quase educada e de cada cortesia pouco voluntariosa, há intenções escondidas, conteúdos latentes, que dizem “me use, que nós vamos abusar de vocês”.

E se nós temos tempo, energia ou azar, acabamos por ser obrigados a conhecer os pontos turísticos da região. Frente a esses ídolos caídos e tradições esquecidas, mercenários nos cobram por fotos que não queremos tirar, lembranças que queremos esquecer, nunca tentativa vã de nos convencer que esses lugares já foram grandiosos. Mas não foram.

Por fim chega a hora de partir. Cheios de falsa emoção, dizemos que já sentimos saudades e não esperamos a hora de voltar. Não esperamos, porque torcemos fervorosamente que nunca mais precisemos voltar.

Descobrimos em cada destino torto, em cada viagem que poderia ter sido uma visita a um site na internet, que o nosso lar é nosso por uma razão. Não porque o amamos nem porque eles fazem parte das nossas identidades, não. Também nos sentimos mal por voltar. O nosso lar é nosso porque lá somos tão ruins e decadentes quanto os outros os são nos lugares aos quais tentam nos atrair e nos quais tentam nos aprisionar.

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