A vizinha intrometida, que adora fazer uma visita sem avisar, termina de desfiar seu rosário de fofocas, e, para justificar o seu monólogo, tenta fingir que ele faz parte de uma conversa:
– E, então, Maria? O que você acha?
– Eu? Mas, quem sou eu?
– Você deve ter uma opinião, não?
– Ter, tenho, mas… opa, acho que a água já ferveu.
Maria vai para a cozinha, tira a chaleira do fogo e começa a arrumar os apetrechos pra coar o café. A vizinha insiste em fingir que estão conversando:
– Maria, você ainda usa coador de pano?
– Pois, é. Fazer o que?
– Por que não usa o filtro de papel? É tão mais prático…
– É, tem razão, é mais prático, mas acaba. E não dá pra viver sem filtro… sem filtro, não dá.
A vizinha pesca a indireta e, junto com o pó, as opiniões dela ficam presas no coador. Maria sorri, pensando como café e silêncio vão bem juntos, mas guarda a opinião só pra si.