Confesso que estou surpreso.
Depois que saí do Facebook em 2012, sempre considerei o twitter um recanto de paz. Poucas pessoas; papos construtivos e bem humorados;, referências interessantes; um lugar onde se estar.
Infelizmente, nos últimos tempos comecei a ver um afluxo de caras conhecidas e o clima meio que começou a mudar. Numa aparente debandada do Facebook, que, pelos comentários, imagino estar mais tóxico que as piscinas dos clientes da Erin Brockovich, o pessoal veio se refugiar no twitter.
Infelizmente, muitas vezes os que fogem de algo carregam em si aquilo mesmo do que estão fugindo. Logo, a mentalidade do Facebook (pagação de moral em textão, conversas agressivas guiadas pela necessidade de lacrar, narcisismo exagerado e sem motivo) se uniu ao espírito de zoação do twitter e transformou o ambiente numa abominação. Ao invés daquele recanto de paz, de repente me vi numa câmera de eco em que se tentava discutir coisas sérias na velocidade da luz com apenas 280 caracteres.
No início, guiado pela minha autodestrutiva ingenuidade, comecei a me manifestar. Tentava parar as tretas; alertar para a divulgação de fake news; questionar comentários preconceituosos e carregados de ódio de amigos que não sabia terem esse tipo de pestilência dentro de si. Óbvio, deu chabu. Ao invés de acalmar os ânimos, comecei sem querer a atiçar brigas. Pessoas que nem estavam no papo começavam a se meter e, em pouco tempo, o que era um esclarecimento ou tentativa de levantar uma outra visão sobre uma polêmica qualquer virava uma batalha campal da qual me retirava pedindo desculpas pelo que tinha feito.
Inevitavelmente, pelo bem da minha saúde mental, fui obrigado a dar mute em amigos. Gente com quem cresci ou trabalhei. Não podia assistir a destruição da imagem de pessoas pelas quais tinha tanto apreço. Era como ver sem a menor ação um parente ser consumido por câncer terminal, só que nesse caso na alma.
Conversei com algumas pessoas a respeito e todas acharam exagerado o meu mal estar. “Deixa pra lá”; “Seja mais seletivo”; “Não dá pra levar a sério as pessoas nas redes sociais”. Eu entendia essa posição mas me sentia como um depressivo recebendo tapinhas nas costas seguido de um “anime-se, isso é coisa da sua cabeça”. Eles tem razão. É coisa da minha cabeça. Gosto de trocar ideias e discutir longamente sobre as coisas; preciso de tempo pra pensar no que dizer e nas minhas conclusões sobre elas; adoro mudar de ideia e opinião; não acho que minhas observações são mais importantes que as dos outros nem acredito em verdades indiscutíveis; enfim, sou um cara do século passado. E o twitter deixou de ser o espaço onde podia fazer isso.
Uma coisa que costumamos esquecer é que a ágora, o espaço de discussão, interfere enormemente na condução de nossas interações. Podemos falar do mesmo assunto no botequim, na universidade, dentro do ambiente corporativo, com nossas famílias, e as conduções dos diálogos e, ás vezes, suas conclusões serão diferentes. Sinto como se estivesse me repetindo, quando saí do Facebook e abandonei alguns grupos de WhatsApp, e me mostrando como uma pessoa bem antissocial. Mas estranhamente sinto exatamente o contrário. Sinto que a minha vontade de sair de ambientes tóxicos é justamente para preservar as minhas relações sociais que, acredito, devem ser governadas pela interação entre os meus desejos e do outro. E, com certeza, não faz parte do meu desejo participar como vítima ou algoz de relações de opressão e ódio. Por isso, o link para esse artigo vai ser meu último tweet.
Se no caso do Facebook, minha saída foi motivada pela falta de propósito ou qualidade nas interações, e dos grupos de WhatsApp pelos monólogos coletivos, estou saindo do Twitter por não querer participar de uma ferramenta cujo propósito se tornou distribuir afirmações narcísicas descabidas e gerar interações abusivas.
Como Thoreau, estou me isolando no meu Walden digital. Pode ser que volte, mas, como aconteceu com o Facebook, tenho quase certeza que esse é um adeus definitivo.
Não acho que todas as ferramentas de mídia social são ruins. Tenho visto experiências e novidades bem interessantes, mas aquelas nas quais as pessoas que conheço se encontram não promovem redes de relacionamento mas a afirmação vazia das características mais vis de nossas personalidades. Nessa horas é que sinto uma bruta saudade do Google Reader, falecido há 5 anos.
Já avisei ao pessoal da minha saída, pedi links de blogs e e-mails, refiz feeds no Old Reader, assinei newsletters e já comecei a interagir diretamente por e-mail com diversos amigos distantes. Usando a Internet como se fosse 1997. Um raro prazer.
Mas essa saída não significa um corte. Vamos manter contato. Os meus estão aqui. Mande uma mensagem, deixe um comentário, vamos construir relações mais positivas. Teremos mais tempo pra pensar sobre o mundo, trocar nossas observações e, quem sabe, até mandar cartas uns para os outros. Vamos alimentar nossas mentes e nossos corações para nos tornarmos pessoas melhores e não simplesmente lacradores orientados por algoritmos skinnerianos.
E assim esse pássaro se despede, deixando no ar um último piado.
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Grande Lisandro!
Uma vez, ainda nos tempos de encontros de jovens (EAC), um palestrante sugeria que a gente tentasse resolver conflitos mais difíceis com uma carta, ao invés de uma conversa. Seus argumentos sustentavam a tese que o escrito tem mais peso do que o falado pessoalmente.
Pois bem! Tenho uma hipótese que, as redes sociais, de uma forma geral, levam a tese do tal palestrante (que nem me lembro o nome) a cabo. Explicitam muito claramente, sem as mediações normais dos bate-papos presenciais, os desejos e anseios das pessoas. E pior, publicamente!
Dessa forma, arrisco dizer que temos piorado muito nossas comunicações. Ao contrário do que pensamos, estamos mais conectados e também mais isolados. Achar um caminho de volta ao tempo em que discussão quente era no buteco, regado a muita cerveja (e afins) e os excessos eram culpa do nível de substância etílica no organismo das pessoas, é um desafio nessa nossa modernidade.
Que bom que já não me sito tão sozinho… Vamos conversando, de preferência, pessoalmente!