Se tinha um negócio que já estava pra morrer e a pandemia jogou a pá de cal foram as livrarias físicas. Durante uma época, por conta das megastores e da Cultura, o povo ainda achou que as livrarias teriam uma sobrevida nos shoppings. Acabou que a Cultura e as megastores faliram antes das livrarias de rua e ficamos aí com meia dúzia de três ou quatro lojas tentando sobreviver por cada cidade. Das cidades grandes, quero dizer.
É triste, com certeza, mas vou te contar, se tem um troço que me deixa ainda mais chateado é o pessoal que fica consternado depois que a livraria fecha. Tipo isso:
Triste com o fechamento da Livraria Timbre, no Shopping da Gávea. Amante dos livros, adorava dar uma “passadinha” lá pra ver alguma novidade. A placa com a frase de Clarice Lispector na entrada, o cheiro gostoso do ambiente…Mais um espaço que perdemos no Rio.
— educarvalhol (@educarvalholl) January 22, 2021
Sei que o sentimento é verdadeiro e de coração. Mas, não. Esse não é mais um espaço que perdemos no Rio. É mais um espaço que nós matamos. É, eu, você, todos nós. Se os negócios fecham, a culpa não é da pandemia, dos conglomerados internacionais, do Trump, ou do diabo a quatro. A culpa é da falta de clientes. Só isso.
Eu sei do que estou falando. Tive duas livrarias e uma delas inclusive faliu espetacularmente. Não vou contar essa história de novo. Se vocês quiserem leiam aqui. Quando a loja fechou recebemos esse mesmo tipo de reação tanto dos clientes como da imprensa. E, cá entre nós, não adiantou nada. Depois que o negócio fecha, não tem “amante dos livros” que o salve. E o lance que acho pior nesse discurso é uma espécie de expectativa que o negócio tem que se manter sozinho para que a gente fique feliz que ele exista. Mesmo que seja só pra gente dar uma “passadinha” e não comprar nada.
Infelizmente não é assim que funciona. Livraria é comércio, precisa de clientes, negócios, di-nhei-ro. Até as bibliotecas, que na pandemia ficaram mais tempo fechadas que as boates, precisam ter público. Caso contrário vem o governo, que nunca foi lá muito afeito à cultura, e vrau! fecha uma a uma. Com as livrarias a banda toca de maneira bem similar.
Então, ao invés de ficar fazendo pose de campeão do necrológico no twitter, a gente devia parar de comprar um pouco na Amazon e prestigiar os negócios que não queremos ver morrer. Pode não nos dar diploma de defensores da moribunda cultura brasileira, mas vai fazer muito bem para o nosso karma.