Ensaios

Nome e Sobrenome

Oi, tudo bem? Podia fazer o meu crachá de novo? É que o meu nome tá errado. Onde? Aqui, ó. É LisanDRO e não LisanDRA. OK. OK. Sem problemas. É um erro comum. Não é a primeira nem a última vez que vai acontecer comigo. Também, cheio de Lisandra por aí e quase nenhum Lisandro. A não ser na Argentina. Lá o nome é bem mais comum. 

E o pior, sabia?, é que Lisandra não faz o menor sentido. Sério. Afinal, ANDRO é homem. É, não tem ANDRA. Meu nome, por exemplo, é LIS-ANDRO. Lis, flor; andro, homem; Homem Flor em grego. De onde? Coisas da minha mãe. Ela queria botar em grego: Lysander. Sei lá por quê. Tinha uma história que o Lisandro grego, o original, foi um espartano que, cheio de esquemas, conseguiu dominar Atenas. Lisandro, o tirano de Atenas. Doido, né? 

Uma vez li um artigo de um psicanalista italiano falando que a escolha do nome tem a maior implicação no nosso comportamento, porque é o indicativo das expectativas dos pais. E eles tendem a te criar tentando cumprir essas expectativas. Aí eu fico pensando: qual era a expectativa da minha mãe? Que eu dominasse através da astúcia uma comunidade rival que se gabava justamente da sua inteligência? Expectativa nada difícil de cumprir, né? 

O meu sobrenome? Pra quê? Ah, pro crachá novo. Se prepara: Gaertner. Deixa eu soletrar. G-A-E-R-T-N-E-R. Complicado, né? Com primeiro e último nomes desse jeito, não tem como acertarem. A pronúncia ainda é complicada: Guértiner. O pessoal lê e diz Gaértiner. Mas eu nem ligo. Tem um tio da minha mulher que eu conheço há 20 anos e me chama de Leandro até hoje. Vou me ligar com o sobrenome? 

Não, o sobrenome não é alemão. Na época que a minha família veio pra cá nem tinha Alemanha ainda. No máximo é Austro-Húngaro. É nome de cristão novo, sabe? Os judeus pra fugir das perseguições trocavam seus nomes pra nome de árvore ou de profissão. Gaertner, por exemplo, é Jardineiro. E eu ainda sou Oliveira, da parte da minha mãe. Dupla ascendência judaica. Pra complicar a minha vida um pouco mais, estudei num colégio católico mega rígido e na adolescência era apaixonado por uma judia. Vivia falando que ia me converter, mas, cá entre nós, não ia ter coragem de passar pela circuncisão já adolescente. Imagina só. Punk.

Como? É, traduzindo o meu nome é Homem Flor Jardineiro. Não, não foi pensado. Mas a coincidência é legal. Será que sou o jardineiro de mim mesmo? Acho que todo mundo tem essa função de se regar e se alimentar, como se fôssemos plantas conscientes. Engraçado, nunca tinha pensado nisso. É uma maneira interessante de ver a vida.

Bom, o crachá tá pronto? Obrigado, querida. Pera ai. Acho que você errou de novo. É LISANdro, e não LISSANdro. Desculpe pedir pra corrigir de novo, mas você sabe como é… Não vai dar trabalho? Que bom. Obrigado.

Calma aí. Escrever CHATO é sacanagem. Pô, a culpa não é minha. Preciso te lembrar que não fui eu que escolhi meu nome? Eu sei que é complicado mas não fui eu que escolhi. Ei, ei, não precisa me chamar de Tirano. Tá bom, eu levo esse crachá com LisANDRA mesmo. Pô, por que tanta complicação só por conta de um nome e de um sobrenome? Onde já se viu? Por falar nisso, qual é o teu nome?

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