Acordamos no meio da madrugada com fome e vagamos esperando que nos alimentem. Algumas vezes vamos importunar alguém para que nos dê comida. Miados, cheiradas e até mordidas. Às vezes funciona. Às vezes, não.
Comemos o que há. Queríamos comida molhada, mas não tem. Lembramos daqueles snacks deliciosos. Hum, eram de quê mesmo? Não lembramos. Tudo parece tão igual. Então, por que não comer aqueles fios apetitosos saindo do sofá?
Chegamos à nossa caixa de areia e ela continua suja. Fazer o quê? Como os humanos, usamos o banheiro, de preferência a pia ou o bidê. Que opção eles nos deixaram? Nenhuma. E, no fim das contas, eles reclamam, limpam nossa sujeira, mas não fazem nada.
A casa começa a se movimentar e iniciamos o nosso trabalho. Nos escondemos dos humanos, encontramos lugares interessantes para dormir, vigiamos cantos esquecidos onde vivem os espíritos que eles não conseguem ver, ou os lembramos, durante as suas atividades sem sentido, que existimos. Imagine o que seria deles se não estivéssemos lá para afofar as suas barrigas, arranhar suas roupas ou cheirar suas bocas nos momentos inconvenientes? Eles iam acabar acreditando que as coisas que fazem tem importância. Coitados.
Finalmente limpam nossa caixa, nos dão comida molhada e podemos descansar. Infelizmente eles são seres vespertinos e cismam em tentar nos abraçar. Fugimos e olhamos pelas janelas através de redes tentando lembrar como era ser livre. Sem sucesso.
Enfim, os humanos vão descansar e escolhemos aqueles de nossa preferência para servir de colchão. Dormimos pouco. E não é porque dormimos o dia inteiro. Somos insones. Temos muitas preocupações em nossas mentes.
Voltamos para nossas janelas e novamente tentamos lembrar como era ser livre. Sim, temos conforto, comida e cuidados, e o que eles nos pedem é muito pouco, mas falta algo. Algo que nos lembre do que somos. Que somos gatos. Não somos?