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O nome do elefantinho

Uma função do nome que a gente costuma esquecer é servir de escudo. En geral, o que tem nome está protegido. Dentro da granja, todas as galinhas são potencial canja; menos a Giselda, que você cuidou quando nasceu fraca e, um dia, por esse apego, acabou dando um nome pra ela. Por isso há uma diferença entre os animais domésticos, que servem à, e são servidos na casa, e os animais de estimação, que você ama e, notem, sempre tem um nome.

O mesmo serve pras pessoas. Quando elas tem nome, matá-las se torna assassinato; quando elas são uma categoria, apenas baixas de guerra. Racistas e homofóbicos; intolerantes e preconceituosos; militares e militaristas se apropriam dessa tática cognitiva não só ignorando o nome dos outros, mas tirando os nomes que os outros tem, e os substituindo por alcunhas. Assim matam as pessoas incluídas nas categorias que acham diferir deles sem nenhum peso nas consciências que fingem ter.

Agora descobriram que os elefantes tem nomes que eles mesmos dão uns ao outros. Quando descobrirmos que todos os animais tem nomes, será impossível não se render ao vegetarianismo, a não ser, óbvio, aos sociopatas. Afinal, toda sociopatia começa quando negamos ao outro o direito a um nome.

Dessa forma, toda a generalização seria um ato de guerra; e toda a particularização, um ato de misericórdia. Talvez, quando Deus disse ao homem, no Éden, para dar nome aos animais, o propósito não era dominá-los, mas torná-los objetos da sua estima. Fica a dica: nomeie algo e o ame, hoje.

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