Uma das (des)vantagens de ficar velho é lembrar de tempos em que as coisas eram diferentes. O Ano Novo é um desses casos. Uma das coisas que mudou dos anos 90 pra cá é que, em vez de metas e objetivos para o ano vindouro, a gente fazia resoluções. Pode parecer a mesma coisa, mas era bem diferente.
As tais metas e objetivos de hoje vêm de uma cultura corporativa baseada em eficiência, requisitam planos de ação, métricas e governança para punir os culpados pelos fracassos e exaltar os responsáveis pelos sucessos. No começo dos anos 90, o Ano Novo, ao contrário de um período de prestação de contas, balancetes, frustração, e apresentação de planos estratégicos, era uma época mística para explicitar seus desejos ao Universo. Eram as tais resoluções que, interpretadas literalmente, não passavam de decisões.
“Em 1995 vou emagrecer, arrumar um novo emprego, amar novamente”. As tais resoluções eram desejos transformados em decisões. Definir como elas iam ser executadas não estava bem nas nossas atribuições. Parte da responsabilidade de torná-las reais era, sim, nossa, mas boa parte também era entregue ao destino. Enfim, eu decidi, vou me esforçar, mas, ô, destino, dá uma ajuda aí. Por mais que houvesse um horizonte para as resoluções, havia um sentimento bem forte de “se rolar, rolou”. Era uma época mais relaxada onde o que importava era o “eu quero”, ao invés da pressão de hoje do “eu tenho que”.
Ontem, um amigo veio me perguntar quais seriam as minhas metas de 2021, o que me fez lembrar dessa mudança nos desejos e programações do Ano Novo. Na hora não me veio nada. Se tem uma coisa que 2020 me ensinou foi a não ter planos muito detalhados. Tenho, sim, alguns desejos e até umas resoluções, mas não tenho metas.
Sem ter o que compartilhar com ele, disse que queria novas rotinas.
Além dos desejos, mas aquém das metas, acho que o máximo que podemos pedir para o Ano Novo é ter novas rotinas. Os resultados dessas rotinas muitas vezes estarão fora do nosso controle, mas num mundo onde a incerteza é a única certeza, pedir pra controlar o seu dia talvez seja o máximo de ambição que podemos nos permitir.
Assim, em vez de almejar perder 20 quilos, mudar para o exterior, arrumar um emprego que pague o dobro do seu salário atual, ou encontrar o amor da sua vida, crie uma rotina como se tudo isso já tivesse acontecido. Se exercite, coma melhor, estude uma nova língua, divulgue seu trabalho e busque gente que seja do seu interesse. O resultado, se tiver que vir, virá. E se não vier, deixe pra lá. Pelo menos a sua parte deu pra fazer. A do destino a gente torce que ele irá providenciar.
Então, o que posso nos desejar em 2021 é que, controlando esses pequenos pedaços do nosso dia, não necessariamente realizemos todos os nossos desejos, nem atinjamos todas as nossas metas, mas que, pelo menos, aumentemos a resolução das nossas imagens, melhorando o foco para descobrir que somos melhores do que parecemos. E se isso rolar, já vai ser muito bom.
Um feliz 2021 a todos em que possamos ser mais nós mesmos, e que o destino, olha lá a responsa, mestre, continue a nos ajudar. Nos vemos em 2021.