Ensaios

Sam Mendes e o inconformismo

Nos últimos meses acabei meio sem querer (re)assistindo a vários filmes de Sam Mendes. No último, Revolutionary Road, de repente percebi um traço comum em todos eles: a luta contra a conformidade e, consequentemente, contra a mediocridade.

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Gotta do more. Gotta be more

No primeiro, Beleza Americana, a crise de meia idade serve para libertar o herói da vida de medo e sem desejo e, por mais Zen que isso seja, da própria vida. Em Jarhead, a luta já foi perdida. Apenas assistimos à destruição da força de vontade dos heróis e às suas transformações em máquinas a serviço de um sistema perverso. Em Way We Go, a tentativa também é de se encaixar, mas, felizmente, graças ao processo de investigação (interna e externa) do casal, ela é mal sucedida. Já em Revolutionary Road, o mais trágico dos quatro, vemos o que acontece depois do “foram infelizes para sempre” que normalmente encerra as histórias de acomodação.

Por mais diferentes e distantes que os cenários e os personagens sejam, a sua luta é sempre a mesma: se manterem fiéis a si mesmo. Alguns são bem sucedidos, mesmo que apenas de forma espiritual, quando outros perdem a batalha ou se entregam voluntariosamente às forças da opressão e do esquecimento. Todos de uma maneira ou outra estão tentando responder em alto e bom som à imortal pergunta “Quem sou eu?”. Ou, melhor, sendo o mais nietzschiano possível, “Quem eu posso ser?”. Pensando bem, existe outra pergunta a se fazer na vida?

No cinema de hoje é difícil ver isso. Essa pergunta e essa luta foram esquecidas. A apropriação do gênero de super heróis, de temática basicamente reativa, reacionária e de manutenção do status quo, pela tela grande é um bom reflexo de como o cinema deixou de ser uma arte que inspira à rebelião e ao inconformismo, para se tornar uma ferramenta de alienação e distração. Uma pena.

Enquanto não vermos os nossos heróis lutarem as lutas certas, enquanto nossos exemplos não forem os que nos impõe as reflexões importantes que precisamos fazer, nós continuaremos a lutar as lutas erradas e achar que os prêmios que recebemos são um sinal verdadeiro de felicidade. Tolos que somos. O fracasso dos heróis inconformistas e a sensação ruim que suas histórias nos provocam não devem ser encarados com desesperança, mas como um aviso de que a luta é dura mas válida e que não lutá-la é que realmente significa fracassar. Esse desconforto, pode crer, é que nos impele a viver. Sensação de tranquilizante saciedade fecha o caixão de nossas almas. Precisamos de mais filmes assim. Quem é você pra dizer que não?

Nossos heróis não morreram de inconformismo mas foram mortos pelas forças da conformidade
Nossos heróis não morreram de inconformismo mas foram mortos pelas forças da conformidade

Quer responder a essa pergunta? Uma dica: o primeiro passo para descobrir a resposta é dizer “eu-não-sei”. Sabia?

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