Uma das coisas que realmente me deixa fulo da vida é ver algumas palavras sendo usadas no sentido “errado”. Não que eu me incomode com a falta de capacidade de comunicação das pessoas, ache maldade da parte delas ou considere a ignorância algo fatal. Minto, eu me incomodo e muito. Mas o que mais me incomoda nessa situação é o momento novilíngua onde as palavras vão perdendo o significado e qualquer coisa significa tudo ou nada. Ao mesmo tempo. Ou seja, eu falo qualquer coisa e a sua obrigação é me entender porque… bom, você sabe como é.
Ironia é uma das palavras que mais sofre com isso. Que eu me lembre, ironia sempre foi uma declaração falsa que procura expor uma verdade às vezes com propósitos cômicos. É, pelo menos a wikipedia concorda comigo.
Contudo, o que a gente mais vê é ironia sendo usada com o sentido de coincidência cômica e cósmica que presume humor por parte da “vida” ou do destino. Um exemplo: o tweet do Jason Alexander.
In a flagrant display of brutal irony, my son is currently dating an architect.
— jason alexander (@IJasonAlexander) October 3, 2014
Isso, meu caro George, não é ironia, tá mais pra Sincronicidade.
Não sei exatamente quando a Ironia virou essa mixórdia de sentidos, mas culpo muito a Alanis Morissete e sua música Ironic onde todas as situações que ela conta e canta não tem nada de irônico. São apenas situações onde algo de bom acontece e algo ruim está atrelado a isso gerando uma descoberta significativa.
Nesse caso, nem sincronicidade serve. Tá mais pra Zemblanity, palavra que infelizmente ainda não tem tradução.
Pensando bem, talvez a intenção dela não tenha sido má. Talvez ela queria dizer que a vida estava agindo com ironia, mas, cá entre nós, isso não passa de outra tentativa de tentarmos entender o outro desconsiderando as palavras que ele usa pra se comunicar. Ou seja, porque os outros são preguiçosos como emissores, sempre seremos indulgentes como receptores?
Não, me desculpe, eu me recuso. Acho importante preservar a nossa língua, seja ela qual for, e, quando necessário, devemos, sim, criar palavras que venham a expressar novos conceitos que ainda não são atendidos pelos atuais termos e…
Ah, a quem estou tentando enganar? É inútil. As pessoas vão continuar falando qualquer coisa e nós vamos fingir entender para manter essa ilusão de comunicação. Mas por que devemos nos preocupar? O mais importante é preservar a sensação de comunidade e união entre as pessoas sejam quais forem as palavras que estivermos usando. Enfim, não importa o que eu diga, nem o que você compreenda desde que a gente se entenda, né?
O bom é que vemos como isso tem dado certo na história humana. Mesmo sem compreender o que estamos falando, vivemos nesse idílico mundo pacífico e colaborativo sem crime, guerra ou opressão.
Sim, a propósito, isso foi uma ironia. Sacou?
Amigo, mas a Ironia de Ironic é não ter ironia nenhuma, don’t you think?
Não. Acho que é só mais uma estratégia de explicar algo que estava errado. Tanto que a ficha caiu pra ela publicamente. https://www.youtube.com/watch?v=6GVJpOmaDyU&feature=youtu.be