Vou te dizer, facebook nunca me falou ao coração. Eu abri a minha conta em meados de 2007 e deixei sem atividade até a minha mulher fazer um intercâmbio no exterior em 2010. Naquela época, por conta das funcionalidades otimizadas de comunicação e compartilhamendo de fotos que outras ferramentas não agregavam, ele quebrou um galho. Calhou que na época o povo começou a abandonar o ORKUT e migrar pra lá. Nada mais natural que já estando por lá, e vendo os amigos chegarem, eu por lá ficasse. E lá fiquei. Até que começou a me encher.
Como bom introvertido, o excesso de pessoas, muitas que só conhecia brevemente, e o conflito de contextos -não queria saber a posição política de um cara que só conhecia de jogar jogos de tabuleiros- começaram a tornar a experiência de entrar lá, quando não tétrica, perturbadora. Um dia perto do meu aniversário, fiz um teste que foi bastante importante: apaguei a minha data de nascimento do perfil. Assim ninguém receberia aviso do meu aniversário. Feito isso aguardei para ver quantos realmente se lembrariam da data. Foram poucos e a maioria não estava por lá. Alguns amigos que realmente importavam e todos os outros que eram apenas conhecidos esqueceram. Meu diagnóstico: estar por lá não me trazia nada de novo e tornava-nos, tanto a mim como a meus amigos, socialmente preguiçosos. É como dar like no post sobre a morte de um parente. É uma maneira muito fácil e conceitualmente errada de mostrar solidariedade.
Assim, depois de diversos sábaticos que sempre terminavam quando um amigo questionava se ainda estava vivo, tomei a decisão final: era preciso deixar claro que não me encontrariam mais por lá.
Baixei o conteúdo que tinha colocado no facebook; afinal muitas coisas valiam ser guardadas; e escrevi um e-mail aos amigos avisando da minha decisão, o qual reproduzo abaixo:
Pessoal,
Já apertei o famigerado botão de Baixar Conteúdo e recebi o e-mail com o link para tudo o que já postei no Facebook. Ou seja, enquanto vocês lerem isso já terei pedido as contas dessa Rede Social.
Acho que teve seus momentos. Foi legal enquanto durou, mas já estava sentindo as interações meio saturadas. Os papos já estavam bem rasteiros; as piadas, óbvias; abandonamos o discurso e a troca de idéias em prol do like; e certas coisas já estavam virando obrigação ou mesura social. Então, já viu, né? Cansei.
Além disso, em 100 coisas novas que eu descobria por dia, 52 vinham do twitter, 47 do Google Reader e só 1 do Facebook. Em geral besteira. Assim, comecei a perceber que tanto eu como outros estávamos nos repetindo ou simplesmente abrindo mão de Informação e Interação por Afirmação. Então não estava sendo mais uma forma divertida de satisfazer as minhas múltiplas curiosidades nem de matar as saudades dos amigos.
Bom, não vou me alongar mas quem quiser entender melhor por que cansei, leia isso: http://lisandrogaertner.net/blog/?p=655
Mas fiquem tranquilos, não estou sofrendo de um caso severo de ludismo. Ainda estou pela rede. Tenho twitter (@lisandro), ferramenta que acho bem mais legal pra conversar, e meu site (lisandrogaertner.net), onde posto de forma bissexta.
E se quiserem falar comigo usem o velho método de comunicação direta, seja via e-mail ou telefone.
Abraços e espero vê-los mais presencialmente.
Inté
E pronto! Segui o passo a passo para cancelar minha conta completamente e, assim, vivo feliz sem ele há 518 dias. Desde então bastante coisa mudou. Me tornei mais atuante em minhas relações sociais, consegui mais tempo pras besteiras que realmente contam e passei incólume por polêmicas bestas e virais que não significavam nada. Enfim, aprendi melhor a ficar mais sozinho. Algo que iria beneficiar muita gente.
Por isso, quando vejo o povo reclamando presencialmente que não aguenta mais o facebook, me pergunto: por que então não saem? Sempre que os questiono, surgem as mais diversas razões. Todas facilmente derrubáveis. Eu consegui e não morri. Se realmente se importa com alguém, existem outras formas de entrar em contato. E meu propósito em minhas amizades não é ser informado do que rola na vida alheia, nem ficar espalhando rumores ou indiretas sobre mim. O nome disso que eu saiba é fo-fo-ca. Quero poder conviver com os outros. No tempo que der, e da forma que for possível. Quantidade não tem nada a ver com qualidade nesse caso.
Então, quando surge uma campanha dessas, me sinto obrigado a divulgar. Quem sabe se você ficar menos por lá, poderemos nos ver e nos falar mais por aí?
Fiz o mesmo! Sei que em algum momento, claro, vou acabar reativando meu perfil. Mais, por hora, preciso de resiliência… E isso já está me ajudando. Muito mais do que imaginei!?