Não sei por que ainda não rolou por aqui, mas uma das séries mais legais que existe atualmente se chama Episodes. Trata da história de um casal de roteiristas ingleses que vão para Hollywood escrever a versão americana da série que produziram na Inglaterra. Como é de se esperar, tudo dá errado. Aos poucos a versão americana vai se tornando algo completamente diferente da original e as pressões por sucesso geram tensão e insegurança insuportáveis que desestabilizam o casal e aniquilam a qualidade do produto. E por que a versão americana se torna um lixo? Minha teoria é: falta de confiança. Não há confiança entre roteiristas e a rede de tv, entre o elenco e os produtores, e enfim entre o próprio casal. E sem confiança na criação, não há como o público, sozinho, confiar na série.
Hoje, enquanto assistia ao belo primeiro episódio da segunda temporada de Orange is the New Black, lembrei de Episodes e fiquei pensando no papel da confiança (e da consequente sensação de segurança) na qualidade de uma obra. Vejam bem a diferença entre as séries Netflix e, por exemplo, as das séries da TV aberta americana. Enquanto as temporadas das primeiras são produzidas e lançadas todas de uma vez na confiança de que a sua qualidade irá atender às expectativas e, quiça, surpreender seu público; as últimas ficam constantemente sobre escrutínio e tensão durante a sua produção buscando encontrar algo que venha magicamente a cativar o público.
Nesse caso, as mudanças muitas vezes sem sentido e a falta de coerência se tornam claras e frequentes e acabam por minar a confiança da audiência, afastando aqueles se dispuseram a conhecer essas histórias. Quando há confiança, por outro lado, é possível ter desprendimento de “resultados” (afinal, que diabos é isso?) e focar na história, o que acaba por capturar a nossa atenção e nos aproximar dos personagens e seus dramas. Essa confiança, gerada pela postura dos produtores, contribui enormemente para que os criadores gerem credibilidade e nos permitam entrar no desejado estado de suspension of disbelief.
Essa é, pra mim, a real diferença entre o contador de histórias que tem algo a lhe dizer e aquele que só deseja te agradar. Somos muito mais propensos a ouvir uma história ruim mas verdadeira do que uma boa mas claramente artificial e complacente.
Portanto, seja sincero com o público e consigo mesmo. Esse é o pré-requisito principal para uma história bem contada. Tudo mais não interessa. Pode confiar.